A grande ambição por detrás do nascimento do OSP, mais vale confessá-lo desde já, é ver um dia o verbete “obrigadosápíntico” estampado no Houaiss (ou no mínimo, vá lá, no dicionário da Academia das Ciências):
obrigadosápíntico (m.q. obrigadosápinto) Datação: séc. XXI
- adjectivo
1 que ou aquele que não tem ou não demonstra ter medo; bravo, destemido valente, raçudo
Ex.: [Agripa era um centurião o.]
2 que ou aquele que demonstra firme disposição e energia diante de situações difíceis ou críticas
Ex.: [povo o.] [tarefa só para os o.]
3 diz-se de atitude, decisão etc. caracterizada por audácia, ousadia, destemor
Ex.: [gesto o.] [ideias o.]
4 em estado de fúria; brabo, danado, irado
Ex.: [ficou o. com a sua omissão da lista de convocados]
5 que se irrita facilmente; de mau génio; brabo, irritadiço, irascível
Ex.: [não o provoque, ele é muito o.]
6 que tem um tendão de cadáver enxertado
Ex.: [ele só continua a jogar porque tem um joelho o.]
7 que se caracteriza pela honestidade; íntegro, honesto
Ex.: [um amigo o., um homem às direitas]
8 tempestuoso, revolto, violento
Ex.: [mar o.] [tufão o.]
9 não cultivado; bravio, agreste, brabo, inculto
Ex.: [terras o.] [pereira o.]
10 de muita intensidade; alto; brabo, forte
Ex.: [febre o.] [saudade o.]
11 que se baba todo depois de ser expulso de uma competição desportiva
Ex.: [depois do cartão vermelho, o Sá Pinto comportou-se de forma o.]
12 digno de admiração; notável, celebrado, insigne
Ex.: [um orador o.]
13 generoso, humanitário
Ex.: [S. Francisco de Assis teve sempre uma conduta o.]
14 amante fogoso, caracterizado pela resistência e criatividade
Ex.: [ele era o. debaixo dos lençóis]
15 de grande benfiquismo, religiosamente lampião
Ex.: [apesar das origens do seu nome, o OSP é a coisa mais o. que há]
Sem dúvida que se trata de hubris, há que assumi-lo, mas o OSP dá a cara por ela, assume-a e identifica-a como sendo um efeito secundário da sua paixão por livros e bibliotecas. Ainda hoje o OSP gosta de folhear um dicionário, quando precisa de serenar.
Para que tal desejo se concretizasse, contudo, o OSP precisaria de exposição, mediática ou não, e sempre teve relutância em tentá-la, devido à natureza discreta da sua pessoa. Parecia, pois, que teria de se contentar com ser o Porto Canal dos blogues sobre o SLB, mas então surgiu algo na sua vida que o fez pensar que não teria outro remédio senão aventurar-se na esfera pública: angustiado pela possibilidade de perder para sempre o futebol do Rui Costa, o OSP considerou redigir uma petição para que ele não deixasse novamente vazio aquele número 10, pelo menos já no fim desta época. Na realidade, seria, mais do que uma petição, uma carta de amor que todos os que, como o OSP, se confessam devotos do Rui Costa poderiam assinar.
É certo que, com isto das internets, o acto da petição se vulgarizou, e também é verdade que as petições deveriam estar reservadas a assuntos sérios e essenciais (apesar de o OSP assinar quase toda a porcaria que recebe na sua caixa de correio electrónico, desde petições pela defesa do direito de o Sousa Tavares e o Pulido Valente poderem fumar para cima de quem lhes apetecer em restaurantes, até abaixo-assinados a implorar que haja um entrevistador-basta-só-um-unzinho da televisão que por-favor-faça-perguntas-não-custa-assim-tanto ao Pinto da Costa relativamente ao conteúdo das escutas), contudo o facto de haver a possibilidade de nunca mais se poder ver o Rui Costa a jogar ao vivo era, para o OSP, um assunto da maior seriedade e importância. Merecia ser peticionado, apesar da esperança oferecida pelo Sport Lisboa e Saudade.
Agora, porém, o OSP já não fará a tal petição: primeiro, porque ela já circula por aí, e depois porque, no jogo com o Braga, o OSP viu, pela primeira vez, desespero preud’hommiano nos olhos do Rui Costa, aquela sensação de condenação a uma realidade menor do que aquela à qual se pertence. Todos os benfiquistas a conhecem, ou não a tivessem visto em tantas ocasiões nos cerúleos olhos metálicos do Preud’homme, que foram perdendo o cromo com o passar dos anos. Afinal, ele veio para o SLB aos 35 anos na esperança de grandes vitórias e de uma existência tranquila como guarda-redes de uma equipa grande, após uma carreira em clubes médios da Bélgica. Quando o Preud’homme chegou, porém, já o SLB estava em pleno declínio, e os próximos cinco anos só lhe renderam: 1) uma Taça de Portugal, 2) inúmeras presenças na linha de tiro em que se transformou, então, a baliza do SLB e 3) um sem-número de suplicantes olhares de desconsolo lançados na direcção do Bermúdez, do Jorge Soares, do Tahar e do Pedro Henriques.
E se o Rui Costa, com todo o seu benfiquismo, se sente assim, dentro de campo, a olhar para os marretas que andam por ali a correr vestidos de vermelho, o melhor mesmo é os benfiquistas deixarem-no ir e guardarem, num canto qualquer a que ninguém chegue, os apesar de tudo poucos momentos de prestidigitação que o Rui Costa lhes concedeu na Luz, sobretudo aquele jogo com o Parma; a esperança que ele lhes acalentou, à distância, ao longo de 12 anos; o ter tornado os jogos da selecção imperdíveis; o facto de terem passado a conhecer melhor a cidade única que é Florença; e a evidência de, quando no banco, ele nunca ter aplaudido um golo contra a sua equipa do coração marcado pela sua equipa em Itália.
Além do mais, o OSP está convencido de que só com o Rui Costa como director-desportivo alguma coisa pode mudar no SLB. Não é que o Luís Filipe Vieira não perceba nada de bola, é só que… não, ele não percebe mesmo nada de bola. Nadinha. Népia. Puto.