26.4.10

Mão-cheia


Tem sido um ano de adjectivação difícil para os jogos do Benfica. A excelência tantas vezes repetida corre o risco de a normalizar. E se é a excelência que queremos normalizada no Benfica, também não nos podemos esquecer que o Diabo está sempre a espreitar atrás da porta (do Dragão). O óptimo nunca deve ser dado como adquirido, apenas como merecido. Por isso, cinco golos contra uns rapazes jeitosos deve ser devidamente valorizado. O ano passado perdemos com o Trofense e encolhemos os ombros à laia de inevitabilidade.
Este ano, fosse um campeonato mais normal, e há muito que seríamos campeões. Com os pontos que vai amealhar o Braga teria sido campeão em quase todos campeonatos da última década.
E quer-me parecer que isso nos custou uma "Euroliga".

Benfica, 5 - Olhanense, 0

19.4.10

O futebol é um jogo, lembram-se?

"Back to basics" é um excelente exercício. E que devíamos utilizar com muito mais frequência em todas as vertentes da vida, por exemplo quando estamos desmotivados no trabalho ("estou muito melhor aqui que no desemprego") ou a reequacionar o casamento ("a Vânia da contabilidade tem umas ricas mamas mas acha o violador de Telheiras um querido"). E também, obviamente, no futebol.
No futebol temos a tendência para racionalizar totalmente. No jogo com a equipadevermelhosediadanacidadedeliverpool lá andou toda a gente a dizer que o Jesus não devia ter posto o Sidnei, que o Paulo Bento espanhol o surpreendeu e mais não sei quê, quando a explicação é recorrer ao "back to basics". E o que o exercício de "back to basics" nos diz é que o futebol é um jogo e que por isso tem uma grande parte de aleatoriedade, que é como quem diz que, como jogo que é, a sorte pesa muito. Ou a falta dela, que é disso que o SLB tem que se queixar nesta edição da Euroliga. Para começar, calharam-nos as duas melhores equipas da competição. Para prosseguir, o cabrão do Torres depois de ter estado lesionado praticamente a época toda, recupera para jogar connosco e depois lesiona-se a seguir. Junte-se a lesão do Saviola e insultemos todos o velho Trap, que nos gastou toda a vaca para aí de três décadas, naquele malfadado título de 2005.
Imaginem a eliminatória com a equipadevermelhosediadanacidadedeliverpool com o Saviola a jogar. Mais: imaginem-na com o Saviola e sem o Torres e digam lá se milhares de gajos não tinham já ligado à Cofidis para pagar a viagem a Hamburgo. Essa é que essa.

Pois é, o futebol não se baseia na sorte, mas tem momentos e normalmente críticos em que não pode passar sem ela.
Com a Académica, ela veio e foi. Veio com aquele herói acidental chamado Weldon, que espetou mais um golo sem saber ler nem escrever. Foi-se com aquele chouriço que comemos. Voltou com mais um golo espetado pelo Weldon (ele que não me leve a mal mas tudo o que ele faz, e especialmente quando acerta na baliza, me parece obra do acaso). E foi-se com mais um golo da Académica, desta vez sem qualquer ressalto, mas com azar: o azar de não jogarmos com um guarda-redes decente. Voltou com as forças magnânimas da sorte a colocarem um passe do Di Maria no caminho de um colega. E foi-se novamente com mais um golo que nos deu um bocadinho de stresse.

E estando hoje imbuído de irracionalidade (segundo a minha mulher estou assim desde sexta-feira, quando comprei um bilhete para a minha filha de 5 anos ir ver o Olhanense, num estádio que deverá estar a abarrotar), digo-vos já: para a semana somos campeões. A única coisa que é preciso é ter sorte.

Académica, 2 - SLB, 3

16.4.10

Uma questão de doping


Isto não pode ser! O Sporting não pode estar a 26 pontos do Benfica. É inaceitável a concorrência desleal. O Benfica, por mais que não queira, joga como se defrontasse o Naval ou Rio Ave, e festeja a vitória do mesmo modo. O Sporting, como sempre, joga a sua final da Liga dos Campeões. Tudo na sua temporada (existência?) é feito em função deste par de partidas anuais.

O que lhes vale é que o Benfica ganha sempre graças aos árbitros, ao relvado, ao tempo, aos túneis, e à reforma do sistema de saúde do Obama. Como boa filial lacaia do demo, nem duas penalidades e uma expulsão perdoadas servem de atenuante. Como bom aluno, aprendeu que a realidade nunca deve ser impedimento para expressar a verborreia que seja.

E a realidade é que até coxos lhes marcamos golos.

Benfica, 2 - Zbórdem, 0

8.4.10

Com três letras apenas se escreve a palavra mãe e com trinta e sete se descreve o jogo de hoje

Jorge Jesus: "Tivemos falta de andamento para o Liverpool"



equipadevermelhosediadanacidadedeliverpool, 4 - SLB, 1

Estás a ganhar, não estavas?

O Benfica está a desenvolver uns traços de maldade que são saudáveis. Isto de praticar apenas o bem e o bom futebol pode tornar-se um pouco monodimensional, e dar pouca espessura dramática ao campeonato.

O Naval, como tal, talvez não o mereça; mas iludir o Inácio, fazê-lo crer que pode vencer o Benfica, a razão da sua existência, e sonegar-lhe tal desiderato é de uma traquinice refrescante.

Nem o onirismo beetliano foi suficiente. David Luiz pensava como marcar Kuyt quando Fábio corria para ele, Quim calculava mentalmente o angulo dos remates de Torres quando se tardou mais um segundo a fazer-se à bola, Javi Garcia colocava-se em campo prevendo os avanços de Gerard, e, quando se deram conta, que chatice, tiveram de jogar um bocadito à Benfica. "Vá lá, não custa nada", vocifrou JJ das linhas. "Tá bem", jogaram eles dentro de campo. E Weldon marcou.

Rebentamos, assim, um avançado por jogo. Colocar a jogar avançados apenas no final da temporada, depois de uma temporada praticamente parados, vai dar nisto; mas nada vale mais de que uma vitoria gloriosa. Serão os nossos bravos da Normandia, nas praias da opressão demoníaca.

Naval, 2 - Benfica, 4

7.4.10

O Anticristo

Jogo à noite, estádio cheio, uns quartos de final de uma prova europeia, um adversário com um historial do tamanho do cadastro do Sócrates. Tudo perfeito. Tudo? Não. Do outro lado, um espanhol pançudo, mostrava mais uma vez ao seu mundo os seus pecados. Imortais e imperdoáveis.

O Liverpool foi daquelas muito poucas equipas que inovaram no futebol. Criaram novos movimentos, assumiram novas posturas, avançaram com novas sistemas tácticos. E ganharam muita coisa e sempre bem. Convido-vos a ver um jogo que invariavelmente passa no ESPN, o Liverpool com os Spurs, de 78 ou 79. Estes tinham uma equipa muito jeitosa. Os outros fazem-me lembrar uma frase do Nastase relativamente ao Borg, quando este estava no auge: "Eu sou um excelente jogador de ténis. O Borg joga outra coisa". E o Liverpool, aquela que jogou contra a equipa muito jeitosa dos Spurs, jogava outra coisa.

Uma das cenas mais deliciosas desse jogo é a cara dos defesas dos Spurs quando vêem as diagonais do Heighway, por exemplo. É que foi esse Liverpool que as inventou. Ou o Dalglish a organizar jogo e depois a aparecer na área. É que foi esse Liverpool que instituiu o apoio do ponta de lança. Ou o McDermot ou o Souness, dois jogadores absolutamente fantásticos, a recuperar bolas na defesa, a passar, com qualquer pé, para qualquer lado, a aparecer na área e a marcar. É que foi o Liverpool que inventou os box-to-box.

Uma equipa com esta história não pode ter uma espécie de Paulo Bento, só que muitissimo melhor remunerado e com um barbeiro um bocadinho mais empenhado, como treinador. Não pode. Este Liverpool é uma piscina de maus fígados, a ver pela cara dos pobres Gerard e El Nino, dois jogadores ao nível dos velhos tempos mas com a motivação da Inês de Medeiros em pagar viagens de avião.
O Benitez transformou uma equipa que eu sempre aplaudi, mesmo quando nos goleou, numa equipa patética. E isto, apesar de termos ganho, e bem, deixou-me triste, irritado e com vontade de vandalizar o El Corte Inglés.

SLB, 2 - equipadevermelhosediadanacidadedeliverpool, 1

1.4.10

Só faltam três jogos

Domingos ficou inconsolável. Ele, que fez tudo o que pode para anular o Benfica. Apesar de colocar o Rodriguez e o Rentería em campo e ver o árbitro perdoar-lhe um penalty (que vale um ponto), Luisão marcou um golo limpo não anulado, algo inesperado e que lhe arruinou a estratégia.

"Oh Porto!", terá pensado, "por esta não estava à espera."

Não temos por hábito ter jogos do título contra o Sp.Braga, e no Benfica a tradição deve ser o que era. Por isso, o jogo do título será contra o Demo. Parece-me apropriado que o festejo do título tenha lugar no antro viscoso e enxofrado. Faz parte das atribuições da equipa do Bem purificar os ares deste país.


Bem, certo será que Bruto Alves, o Gladiador dos Infernos, tentará deixar a sua marca em jogadores gloriosos. Tal como outros energúmenos deixam marcas em monumentos da Humanidade (Pirâmide de Khufu: Tó Manel ama Cátia Andreia 1998; Templo das Inscrições, Palenque: Esta merda até é catita mas a Torre dos Clérigos é mais airosa"), Bruto, também ele, quererá deixar a sua assinatura, feita a alumínio, nas pernas de Saviola, Aimar ou Di Maria.

Marcas de Guerra, bálsamos para a final de Hamburgo.

Benfica, 1 - Braga, 0