Mas a simplicidade de qualquer discurso só encontra verdadeiro mérito se a realidade a que ele se refere for complexa.
Carlos Lopes, após vencer uma maratona, apontou como motivo para a vitória correr mais do que os outros. Mas nós sabíamos que o caminho até a meta estava cheio de táctica, de contenção em determinados momentos e aceleração noutros.
No caso de Camacho, quando ele aponta invariavelmente a não marcação de golos como motivo exclusivo de não somar mais três pontos, ele retrata fielmente a forma como aborda os jogos. Escolhe 11 e a bola entra (como em Guimarães) ou não entra (como ontem, ou contra o Leixões ou contra o Porto ou nos outros jogos que a nossa memória já começa a repelir).
Um jogo com 22 jogadores aos pontapés numa bola, num terreno de 100 por 60 metros, gera um sem número de variáveis. O papel de um treinador é o de aproximar várias dessas variáveis a constantes. E isso começa com a escolha dos jogadores.
Quando se faz alinhar um Luís Filipe, a aleatoriedade do jogo dispara. Quando, por infortúnio, Luís Filipe agarra na bola, ninguém sabe onde a bola vai parar, a começar por ele próprio. “Vou passar a bola ao Maxi”, pensa ele, e lá vai a bola para o Petit (na melhor das hipóteses) ou para um adversário (na maior parte das vezes).
Outro aspecto também estranho a Camacho, é o das saídas para o ataque. Rui Costa, ainda na Fiorentina, retratava as horas semanais que passavam só a treinar este aspecto. Com Camacho, este aspecto é despachado de forma simples (lá está novamente o “simples”): dá-se a bola ao Quim e a transição para o ataque fica feita com um charuto para o outro lado.
O problema não está na meta (nos golos) mas no que (não) se faz durante a corrida. O facto é que, como se comprovou ontem, o futebol da equipa de Camacho é tão imprevisível como uma eleição para secretário-geral do PCP.E na Luz já se vota de braço no ar. Só que agitando lenços brancos.
(Benfica 0 – Nacional 0)
1 comentário:
outro bom post
parabens
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