14.1.08

Fodidos

Se esta época viesse a figurar na história Gloriosa, o Leixões seria uma figura de destaque. Na primeira volta, serviu de desculpa para despedir Fernando Santos. 15 jogos depois, o mesmo Leixões serviu para vermos que nossa equipa não joga uma beata (a analogia não é famosa, mas o facto de ter passado a fumar na rua impele-me para a gíria tabagista).

No sábado, a equipa de Matosinhos nem propriamente se agigantou, como é costume em equipas de bacalhau (recorrendo agora a Manuel Machadês). Jogou o futebolzinho do costume em equipas do Carlos Brito, fiel discípulo de Henrique Calisto, com aquelas trocas curtas de bola a meio-campo que fizeram da Académica dos anos 80 um contínuo candidato à segunda divisão.
E não fosse o árbitro ter um (correcto, mas irritante) arrependimento e o fiscal de linha um momento de miopia e o Porto não gritaria, nesta altura, o hino de campeão. Estaria, apenas, a cantá-lo em voz muito alta.

Que o Porto vai ser campeão, é assunto que não interessa minimamente. O Algarve costuma ser quente no Verão, e isso nunca é assunto de discussão. Quanto chove no Algarve, isso sim, merece comentário. O Benfica não ser campeão, também, infelizmente, não abre a boca a ninguém. Agora, o que se viu no sábado, ou o que se tem visto inclusivamente no sábado, merece umas palavras.

O Camacho fez parte daquela equipa do Real Madrid que transformou, por momentos, o futebol numa completa manifestação de aleatoriedade. Levava 4 na pá duma equipa jeitosa qualquer e 15 dias depois espetava-lhe com 5. Era a fúria espanhola, dizia-se. E essa é claramente a escola do espanhol vivo mais parecido com o Chefe Silva.

Segundo consta, Camacho quer que a sua equipa conquiste o primeiro canto e faça o primeiro remate. A fúria, lá está. E a equipa responde, porque fúria é o que não falta por ali. Viu-se isso bem contra o Setúbal e no fim do jogo com o Leixões.


Camacho é, então, um Anger Manager, não no sentido tradicional do termo, porque ao invés de a querer controlar, ele fomenta-a.

Mas não é Manager de mais nada. O homem escolhe 11, mete-os no tabuleiro – 4 lá atrás, 2 mais à frente, 2 nas alas e 2 na frente ou só um na frente e um mais atrás – e quanto ao resto desenrasquem-se.
Troca de posições, compensações, umas jogadas ensaiadas, umas simples tabelinhas, nada disto se vê numa equipa de Camacho. Nem na outra que ele treinou há uns anos, melhor do que esta, mas apenas porque tinha melhores jogadores (Simão, Moreira, Miguel e Tiago), porque a interacção entre os jogadores era a mesma. Nenhuma.

Calhou há uns 15 dias passar os olhos pelo Real Madrid-Saragoça. Os jogadores do Saragoça jogavam uns com os outros, tinham dinâmica, criavam oportunidades. Casillas ia defendendo golos enquanto o resto da sua equipa lá andava. Entretanto, Robinho lá recebeu uma bola redonda, desmanchou um defesa e mandou o Nistelrooy contar mais um. Passados uns minutos, o brasileiro repetiu a cena, mas desta vez dispensando o holandês.

Ora, é para isto que Camacho está sempre a exigir melhores jogadores: para disfarçar, com o génio de alguns, a incúria de todos, quando juntos.
E como nunca teremos Robinhos, nem tão cedo sequer um Simão, passamos a citar o Camacho: estamos fodidos.

(SLB, 0 - Leixões 0)

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