Para os adeptos do Benfica, tempos houve em que a dose teve um único e contínuo fármaco: o desespero.
A Idade das Trevas benfiquista teve início em 1994 e durou 10 curtos anos de história, mas 10 intermináveis épocas futebolísticas. Primeiro, e de forma marcada, Artur Jorge, mas depois Wilson, Manuel José, Autuori, Heynckes, empurraram o fundo para profundezas inimagináveis até para fantasistas como Tolkien, de tal forma que o Benfica prosseguia em queda livre sem encontrar em que bater.
Os nossos olhos, toldados pela desgraça, até já conseguiam ver potencial em almas futebolisticamente perdidas como Paredão, King, Nelo, Tavares ou Marcelo.
E foi com este Marcelo que, para simplificação de linguagem, vamos classificar como “jogador”, que o Obrigadosápinto se apercebeu da situação desesperante da então moribunda águia.
Recordemos: em Abril de 96, o Benfica jogou em casa a meia-final da Taça de Portugal com um União de Leiria pré-Mourinho (ou seja, banal). O jogo estendeu-se para prolongamento e foi então que o tal “jogador” marcou dois golos. Um deles um hino ao ridículo, com um remate a um linear metro da baliza que ainda acertou na trave antes de se transformar em dado estatístico.
À saída, adeptos houve que foram apitando pela cidade. Já se comemorava uma presença numa final da Taça de Portugal, após bater uma equipa medíocre, devido aos esforços de um “jogador” que só por militante sadomasoquismo se deixava vestir de encarnado.
Mas a humilhação subsistia: no final da época, uns já doentes terminais de desespero abriram uma conta para recolher donativos para um movimento “Fica Marcelo”.
Dificilmente se encontraria personagem menos indicado que Marcelo para uma causa desse tipo. Mas fosse o Obrigadosápinto adepto de outras cadernetas que não de cromos da bola e até iria à Caixa Geral de Depósitos abrir uma poupança para investir na permanência daquele a quem apelidaram de Léo.
Há quem, erradamente, classifique Léo como um jogador “à Benfica”. Jogadores “à Benfica” são os Ângelos, Álvaros e Petits desta vida, que, à falta de um pingo de talento para tocar com os pés em objectos esféricos, se dedicam a produzir suor com intensidade fabril. E, no meio de toda a pele (deles e dos adversários) que deixam em campo, lá aprendem a fazer um ou outro passe em condições. Mas, não nos interpretem mal, são eles os baluartes da cultura benfiquista, os “self made men”, símbolos da superação humana, os Davids que uma vez por outra lá derrubam um Golias.
Léo não é, como dissemos, um jogador “à Benfica”. É também um jogador “à Benfica”. Porque além do suor que ele não regateia, exala aromas perfumados com as mais sublimes fragrâncias do saber jogar à bola. Léo sabe quando correr ou parar, passar curto, sempre rasteiro, ou longo, sempre certeiro, driblar, com qualquer pé, ou cruzar, para a área ou para trás.
Perante a certeza da imprensa da saída de Léo, confessamos que o Benfica-Amadora não nos mereceu grande atenção. 3-0 num jogo cuja importância, por uma vez, foi largamente ultrapassada pela flash-interview em que Léo nos disse que falou com o Presidente e que, afinal, há hipóteses de ficar.
No Obrigadosápinto esperamos que assim seja. Até porque, hoje em dia, abrir conta num banco é uma grande maçada.
1 comentário:
magnifico post.
Se calhar valia a pena pensar em mudar o nome do blogue para "vai-te embora Camacho". Porque os mais novos já não sabem que o o nome significa.
Vou voltar a este estádio. Gosto do futebol que aqui se pratica.
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