16.11.08

Cuíca, cuíca, cuíca

O timing do nascimento do OSP não foi excelente. Seria, se as suas faces se tivessem enchido de borbulhas na década de 50 e não de 80, se tivesse trauteado “Lá vamos, cantando e rindo, levados, levados, sim, pela voz de som tremendo, das tubas, clamor sem fim” e não “See them walking hand in hand across the bridge at midnight, heads turning as the lights flashing out are so bright”, se assistisse aos socos no ar de Eusébio e não ao encosto de Bento a Manuel Fernandes.
Não foi excelente, sem dúvida, mas foi bom. Começámos com Baroti, um protótipo de bom homem, e continuámos com Eriksson, um daqueles que, sem aviso, mudaram o futebol. Como afirmou Fernando Martins, outro bom homem, numa inesquecível entrevista televisiva: "Eriksse é, cuíca, o melhor treinador do mundo.”
Ver a nossa equipa a ser treinada, não só por, “cuíca”, o melhor treinador do mundo, mas, e essencialmente, por alguém que revolucionou o jogo, é, por um lado, um privilégio, mas, por outro lado, uma espécie de maldição.
Depois disso, tudo parece pouco. A exigência agiganta-se, e, com ela, os treinadores – muitos – apequenam-se aos nossos olhos.
Uma das grandes qualidades do gentleman sueco era a disponibilidade táctica, um sinal claro de inteligência. Recordemos uma eliminatória com o Olympiakos, de 83, em que, da primeira mão, trouxemos uma desvantagem de um golo. Na segunda mão, Eriksson apresentou 3 defesas, com um magnífico Shéu à sua frente, e perto da baliza o estilista Filipovic a marcar cedo um golo, num toque superlativo de destreza. Depois do veludo do jugoslavo, a ganga do dinamarquês Maniche, que não só massacrou uma defesa preparada para algo mais macio, como fechou o jogo disparando o três a zero.
Um treinador inteligente não hesita em procurar superiorizar-se a um adversário, quer através de uma escolha criteriosa de jogadores, quer através de uma modificação táctica.
Quique andava-nos a preocupar. O 4-4-2 entretinha-nos, mas desesperava-nos, quando desalinhava em 4-2-4 e a preocupação-mor residia num prenúncio de monotacticismo, e pesadelos começavam a surgir em que Quique, por detrás da sua guapa figura, escondia um coração de Peseiro e um cérebro de Fernando Santos.
Contra o Aves, Quique mudou, e a mudança transbordou para o jogo contra o Estrela da Amadora. É um sistema que o OSP não abraça, de forma continuada, mas que suporta. É bom ver o Aimar ali, apesar de pouco ter jogado hoje, e um meio-campo com gente. Não é sistema com futuro, porque já não temos um Simão que carregue a bola para fora daquele diamante, nem laterais que consigam cruzar sem acertar nos defesas primeiro. Mas é um outro sistema. E, do pobre jogo de hoje – sem quaisquer segundas intenções para com os jogadores do Estrela de Amadora –, fica-nos a esperança que Quique, afinal, seja, “cuíca”, um bom treinador.



SLB, 1 – E.Amadora, - 0

1 comentário:

montra disse...

É com satisfação que vejo uma das minhas histórias favoritas do comatoso Caderneta da Bola aqui reproduzida.

Espero que, tal como o Tio Quique, mantenham o nível. Vá, os resultados.

Frederico Roque