16.1.09

Afinal, o que nos separa do título é apenas um bilhete de época

“Um campeonato é uma prova de regularidade” é um daqueles chavões cuja veracidade é regularmente apedrejada com fervor fanático.
Em primeiro lugar, porque “regularidade” incorpora dois possíveis significados: trabalho acertado e de qualidade constante ou conformidade com as regras. Por isso, e atendendo a que o Porto ganhou a maior parte dos campeonatos das últimas duas décadas e considerando o segundo possível significado da palavra em questão, o campeonato português foi sim uma prova de clara irregularidade.

Em segundo lugar, e focando o tema no importante, os dois últimos campeonatos ganhos pelo SLB foram, e agora pensando na mais comummente aplicada designação de regularidade, tão regulares como a vida amorosa da Elsa Raposo.

Eram duas equipas com desequilíbrios profundos, que terminaram os campeonatos sem a tranquilidade que qualquer uma das “regularidades” permitiria.

E, em ambas, um jogador demarcou-se dos demais: primeiro João Pinto, depois Mantorras. João Pinto, que durante cerca de 80 minutos foi o melhor jogador do mundo, tornou-se o antecessor do erro informático que afectou as máquinas do Casino de Lisboa, dando o jackpot de 3-6 ao SLB, nesse jogo de belíssima memória.
Já Mantorras foi ainda mais do que isso: foi um irmão de Cristo, que durante semanas a fio, ao invés de transformar pedras em pão, transformou bolas transviadas em golos, numa sequência de milagres, pueris aos olhos de cristãos, mas maravilhosos perante os nossos.

O SLB de Quique dá-nos meia confiança, pois apresenta um forte traço da inconstância daqueles dois momentos, mantendo-se na linha de cima. Mas não se vislumbra um Mantorras, nem sequer o próprio do Mantorras, e muito menos o João Pinto. O OSP nunca o revelou, mas até acreditava que Balboa poderia o ser o “tal” desta época, mas era uma crença – completamente esfumada, adiante-se – mais baseada numa bondade à Padre Américo, que acredita que todo o ser humano, e em especial o jovem, tem sempre alguma qualidade.

Pois no mais improvável dos jogos e até das competições (apesar de o OSP prezar muito competições patrocinadas por cervejas – se a UEFA fosse a Taça Heineken e a Taça de Portugal a Taça Super Bock, diz-nos a sensibilidade obrigádosápíntica que ainda estaríamos em competição), surgiu um esboço de uma luz, apontado a um jogador que até apresenta um nome fortemente bíblico.

Di María é estruturalmente inconsciente – o que o aproxima de Mantorras – e, no jogo com os algarvios, foi, durante 20 segundos, o melhor jogador do mundo (se conseguisse manter aquele nível por mais 79 minutos e 40 segundos, aproximar-se-ia de João Pinto). Mas, realmente, nunca o tínhamos visto fazer nada de similar por aqui. A explicação é óbvia, assumida pelo próprio, e escarrapachada em tudo o que era capa de jornal: a presença de Maradona.

Temos então aqui uma maneira de arranjarmos o nosso Mantorras-João-Pinto desta época e, consequentemente, um caminho claro para o título: um bilhete de época para o Maradona. E até podemos pagar viagens, estadias, comida e bebida (e mais qualquer coisita, caso vícios antigos venham à tona). Para quem já deu 3 milhões pelo Balboa, seria uma absoluta pechincha.

SLB, 4 – Olhanense, 1

2 comentários:

Ricardo disse...

Concordo.

Só um aparte: o estafeta da telepizza não custou 3 milhões, custou 4. O que aumenta a heresia da coisa.

Padinha disse...

Oh Ricardo, não insultes os estafetas da telepizza, pá.