O Benfica corre o risco de ganhar habitualmente. Em Portugal, vivemos assim durante 48 anos e as consequências não foram as melhores. Mas ganhar habitualmente não é uma má sensação para quem passava vergonhas com semelhante regularidade. Apenas tenho embirração por ganhar à Demo. O Demo teve um período em que ganhava habitualmente. Num jogo seguro (graças às viagens ao Brasil e às suas nacionais em terras lusas emigradas) e certinho. Aquilo eram épocas seguidas de um futebol modorrento, minando o jogo do outro, enfastidiando-nos até ao estupor. Nós gostamos é de bola. Lembro-me de estar a ver o Manchester City-Chelsea (do Mourinho) e desejar estar no Carlisle-Bradford United de uns meses atrás e £22 a menos.
Se tivéssemos uma equipa de Nelos, Tavares e Paredões, ganhar assim far-nos-ia ter um sorriso nos lábios ante os nossos colegas súbditos de Paulo Bento (bem, na verdade já o temos….)
Uma pessoa não quer andar com aquelas metáforas de “fomos dar uma lição aos estudantes” e tal, até porque gente que contrata um esbirro do Demo-mor, com tendência para olhar para o chão quando há cotovelos à solta contra jogadores da sua equipa, é, redundantemente, idiota. Ter o Domingos não há Paciência a dirigir jogadores é meio caminho para a perda do espírito de equipa. Contudo, há que reconhecer a sabedoria de inovar nos ínvios caminhos para o domínio do futebol português e o seu apodrecimento. Não contente com o comprar de jogadores de rivais para os debilitar, o ceder de outros para minar adversários, e o alugar de árbitros à jorna, resolveu emprestar treinadores. É vê-los a pejar ex-jogadores imbuídos do espírito fóculportista (viscosidade, trapaça e cheiro a enxofre), por equipas adversárias. Ora, se havia o costume de não se jogar com jogadores emprestados contra a casa-mãe, parecia-me bem proibir treinadores de treinarem contra a casa-mãe. Permita-me, quem já está a pensar argumentar que isso só fragilizaria a equipa adversária do Demo, que discorde por antecipação, lançando um argumento preventivo e, a meus olhos, evidente. É preferível ter uma equipa (supostamente) desorganizada do que uma instruída para perder. Imagino a tensão dos jogadores numa equipa do Domingos não há Paciência que se arriscam a jogar bem contra o fóculporto …
Dito isto, estou muito agradecido ao Quique por nos ter posto a ganhar, por ser um treinador capaz e um homem inteligente, conhecedor, bem-formado e bonito. Na verdade, a definição de
um verdadeiro benfiquista, espécie há muito arredada dos bancos benfiquistas (lembremos que os bigodes foram, no seu tempo, imprescindíveis para a beleza de um homem).
Estou, dizia, agradecido. Agradecido mas expectante. Parece-me que falta um clique ao Benfica. Um daqueles cliques salvadores que farão do Benfica um rolo compressor. É que o tempo está a passar e, daqui a uns meses, nem Reyes nem Suazo por cá se encontrarão. Precisamos de um clique como os daqueles pára-quedistas aliados lançados atrás das linhas inimigas na Segunda Guerra, e que os salvou de levar um balázio. É que, meus amigos, nem me passa pela cabeça não ser campeão este ano. E em estilo. Venha então esse clique salvador.