O David Luiz, no passado sábado, foi o BPN: ninguém percebeu muito bem o que se passou, mas foi um enorme buraco. E custa bater no puto, apesar do cabelo (passe o eufemismo), porque, há dois anos, este mesmo puto parecia vir a ser, finalmente, um sucessor dos excelentes centrais brasileiros que o SLB teve, em tempos, a sorte de arranjar (nomeadamente, Mozer, Ricardo e Aldair). E custa ainda mais bater no puto, apesar do cabelo (passe o eufemismo), porque, há apenas uma semana, este mesmo puto teve uma exibição que, em “critiquez”, se designa por irrepreensível.
O que leva então um puto, que mesmo passando de potencial vedeta a jogador jeitoso, a aguentar-se com superioridade perante o Hulk e o Lisandro, e, passado uns dias, a levar nós do Derlei e do Pereirinha? Pois, um dia tentaremos encontrar explicação para isto. Mas o que nos interessa mais agora é denunciar a farsa do jogo realizado pelo SLB. Farsa, porque é suposto que seja um jogo colectivo. Somos constantemente encharcados de discursos mais pró-colectivistas que um congresso do PCP. Ele é o “grupo”, a “união”, a “solidariedade”, e vamos a ver e um tipo, apenas um tipo, 9% da equipa, decide tudo. Ou não? O que se passou no jogo de sábado foi que um tipo estava numa noite bastante má. Deitou-se jogador do SLB e acordou jogador do Inatel. E isto até pode acontecer. O que não pode acontecer é que 91% da equipa se esteja a cagar para isso. Quantas vezes é que o David Luiz teve ajuda? Zero, certo? Não é suposto um flanco ter mais do que um gajo, especialmente quando há mais do que um gajo do outro lado? Mas não. Por isso, custa realmente bater no puto, apesar do cabelo (passe o eufemismo), porque o puto, porque puto é, não sabia que, afinal, a sua equipa não pratica um jogo colectivo: é uma linha de montagem em que cada um tem a sua tarefa. E, se algum falhar a sua tarefa, o produto final sai estragado.
Esta equipa do SLB despreza a divisa do clube, a divisa dos mosqueteiros de Dumas. E, no sábado, esta realidade tornou-se mais visível porque, ainda por cima, os outros é que tinham o D'Artagnan.
O Benfica joga como um tonto, deixa-nos atarantados e sempre à espera de algo inesperado. Ainda assim, consegue sempre surpreender-nos com o inopinado. O Benfica defende como ataca, atabalhoado e sem nexo. Ora, isso pode resultar no ataque, porque o adversário pensa “isto não pode ser, não tem jeito nenhum”, e pumbas, acontecem golos como o do Amorim ou o do Di María. Está certo que com o Di María nenhuma explicação de ordem táctica resultaria, pois estamos perante o mais burro jogador de futebol de que há memória (para quando os €20M?).
Não sei, mas nove meses para formar uma equipa parece-me muito tempo. O triplo do que tomou ao Jorge Jesus, por exemplo. Se calhar, para o Quique, formar uma equipa significa colocar o Suazo a jogar até ele deixar de preguiçar e acertar. Isso não vai acontecer. O Suazo tem um subsídio de férias mensal de 300 mil euros e não era agora que se ia pôr a trabalhar.
No final, ainda se vai dizer que o Benfica não foi mais longe porque o Cardozo não marcou golos suficientes, não justificando o valor investido. Acabamos a vender o Cardozo ao mesmo tempo que devolvemos o Suazo à origem.
Luís: nós, os obrigadosápínticos, somos da geração futebolística mais brutalmente violentada pela ilegalidade futebolística. Passámos anos, muitos, muitos anos, a ver o SLB escandalosamente gamado, com especial e chocante indecência nos jogos nas Antas. Temos, impregnada dolorosamente na memória, a perfeita noção do que são jogos, campeonatos e taças falseados. Mas agora, Luís? Agora? Em 2009? O Porto esta época, só em casa, já perdeu 1 jogo e empatou 2. E isso, nos outros tempos, era tão provável como um casal de coelhos, num buraco, gerar várias notas de 20 euros (alguém tem a bondade de nos informar se, na sociedade coelheira, a adopção de coelhinhos por casais de coelhos homossexuais, está legalizada?). Mas, repetindo, como forma de enfatizar, agora?
E mesmo nessa cabecinha recheada de boçalidade, não poderás encontrar, Luís, uma porçãozita de vergonha? Desculpa, Luís, mas foda-se (pronto, um gajo enerva-se e começa asneirada a desfilar). Nós ganhámos ao Braga, porque o árbitro, das duas três: tem algum litígio com a Optivisão ou estavam, nesse dia, várias gajas extremamente boas e despidas espalhadas na primeira fila, ou ele adora ver o António Salvador fodido da vida (e, se foi por este último motivo, toda a nação ficará agradecida). E obviamente que o Proença nos entalou, mas porque ou é básico, ou ainda tem medo de não marcar penalties lá em cima, ou tem simplesmente medo de levar porrada, ou todas estas coisas ao mesmo tempo.
Mas essa merda, Luís, de vir agora pedir castigos por “tentativa de agressão”, é – e desculpas são devidas, mas os nervos aumentaram e a cadência de asneirada está a aumentar – de coninhas. Sim, Luís, de coninhas. Tu tens o direito (embora, se não o exerceres, não imaginas o descanso e até a esfuziante alegria que invade aqui as hostes) de partir a cabeça ao Proença, de lhe chamar incompetente, e tudo o que mais te vier a essa coisa que tens entre essas impressionantes orelhas. Mas conices, não. Ai que o Bruno Alves tentou agredir o Suazo. Porra, se querias reclamar, Luís, pelo menos que o Suazo tivesse levasse uma valente monada (que até lhe fazia bem, para ver se o gajo acorda). “Se fossem do Benfica, já estavam castigados.”
C-o-n-i-n-h-a-s.
Mas acima de tudo, Luís, acima de tudo e mais alguma coisa, não tentes utilizar a ironia. Pelo amor de Eusébio e tudo o mais que é sagrado – o Cosme Damião, o Pipi, o Francisco Ferreira, o José Águas, o Chalana, a capela (destruída) da Senhora Dona Margarida Prieto, andsoon.
E que raio de – ui, os nervos estão mesmo a rebentar, e esta vai ser uma sequência muito forte - puta de frase é esta: “Chegou a altura de gritarmos basta. Esse basta começou no domingo, mais uma vez.” “Esse basta”? “Começou no domingo”? E “mais uma vez”?! Em que escola primária é que tu andaste, caralho? Se a pátria do outro era a língua portuguesa, tu és um apátrida, homem.
Não brinques (mais) com isto. A sério. Cala-te, acima de tudo não sejas coninhas, e limita-te a fazer aquilo que nós gostamos que tu faças (e que tens feito bem): avalizar empréstimos ao SLB e pagar o ordenado (e a horas) ao Rui.
(1) Os seguranças que te acompanham, Luís, são provavelmente, e obviamente pela sua simpatia, quem nos mais faz hesitar quanto à possibilidade (remotíssima, podemos garantir-te, mesmo ainda na sua génese) de te esbofetearmos. Aliás, somos todos amigos, no fundo tudo o que aqui está escrito é, digamos, também, uma ironia (ah, ah, ah). Compreendes, Luís? Tudo bem connosco? Estamos bem? (2) Homenagem singela, mas sincera, ao autarca (salvo erro, de Valença do Minho) que ontem de manhã, na TSF, referiu que para enfrentar a crise é preciso um “esforço desumano”
Marchando desapiedada, a idade média do OSP perfaz já 35,66 anos, mas o OSP gosta de acreditar (sobretudo agora, que já começa a sentir nas costas o bafo hiscoso, ainda que sábio, da meia-idade) que pelo menos 28,34 desses 35,66 anos estiveram ligados ao que se costuma chamar “uma vida preenchida” (dentro de inescapáveis constrangimentos societários, como é óbvio). Como acredita mais na concepção circular da existência do que propriamente na noção de progresso, o OSP considera que os acontecimentos históricos se repetem de forma cíclica, embora com feição diferente, da mesma forma que crê que as sensações e os estados emocionais se duplicam, embora com necessárias alterações de intensidade. Deste modo, o que varia é somente a natureza dos fenómenos que os criam.
Tendo dito isto, o OSP vê-se forçado a revelar que não é daqueles que querem andar por cá até aos 98,63 anos, pois, tendo já vivido bastantes acontecimentos e sensações na sua vida, acredita que, se prolongasse demasiado o seu prazo de validade, estaria condenado a não mais fazer do que reciclar reacções a esses acontecimentos e sensações até ao fim. Fim esse que, o OSP como que o intui, seria precedido de uma progressiva e por demais escabrosa lassidão das suas funções urogenitais. Não, 70,02 anos serão o suficiente para o OSP.
Mas o OSP divaga. O que interessa é que, em consequência do tão celebrado vitalismo obrigadosápíntico, esta tem sido, de facto, uma vida preenchida, na qual o OSP já experimentou com drogas leves; já se embriagou com vinho de cozinha; estava lá no hat trick do Rui Águas ao Porto; tentou, nos seus anos mais jovens e mais vulneráveis, viver em Paris de acordo com o exemplo do Hemingway (até se aperceber de que a sua coragem física era mais parecida era com a do Fitzgerald); já viu o Messi ao vivo; já foi a Veneza; já fez pára-quedismo; já conheceu o amor; já soluçou ao perder o amor (possivelmente em público, se bem que tudo surja ainda demasiado obnubilado na mente do OSP); já viu o Rojas e o Escalona como laterais titulares do SLB (e, sentado na primeira fila, num derby com o Sporting, jura que viu puro terror nos olhos do primeiro); sobreviveu a 14 anos de Cavaco Silva (ainda em curso); já sucumbiu mais de 61 mil vezes ao pecado da gula; já enrolou os pés publicamente nos tapetes das etiquetas; até aos 26 anos acreditou que, com um pouco mais de esforço, ainda dava para chegar a titular do SLB; viu 372 vezes o Ruptura Explosiva; já foi devoto a Deus; já amaldiçoou a Deus; não foi capaz de ver o penalty do Veloso; já viu o Nadal e o Federer ao vivo; já imaginou o que a Carolina Salgado deve ter feito ao Pinto da Costa para lhe dar a volta à cabeça (e nunca mais foi o mesmo depois disso); viu o golo do Maradona à Inglaterra em directo na televisão; viu partirem o Muro de Berlim em directo na televisão; viu o Futre dizer “Ganhar, caralho! É para ganhar, caralho!” em directo na televisão; foi ganhando aos poucos o hábito irritante de se referir a si próprio na terceira pessoa do singular; já contou piadas absolutamente hilariantes que foram recebidas com silêncio total pela assistência; já disse “dizer ‘russos, copos’, argh!” (e era tudo mentira); transformou a masturbação adolescente numa forma de arte; já viu raios C a cintilarem na escuridão junto à Porta de Tannhauser; tem Leverkusen presente como se tivesse sido ontem; já viu o Tim Duncan ao vivo; já viu o César Peixoto e o Vítor Baía a andarem de bicicleta; viu o Emmanuelle vezes suficientes para decorar todas as falas (só as da versão alemã, todavia); viu o Flying Circus vezes suficientes para decorar algumas falas; estava atrás da baliza certa, quando foi a mão do Vata; já experimentou o conforto de umas boas ceroulas; já tomou banho nu num lago nos primeiros dias do Outono; já viu trees of green and clouds of white; acha que o Manuel Alegre é o último político português honesto; já leu a Montanha Mágica; nunca leu A Filha do Capitão; já pensou em agredir variadíssimos seleccionadores nacionais e treinadores do SLB, idolatrando quem o faz; já fez compras embaraçadas (e semiembuçadas) em sex shops; já chorou ao ver o SLB entrar em campo com o Drulovic como capitão de equipa; já viu clisteres feitos dos objectos mais incríveis; já viu um caracol arrastar-se sobre o fio de uma navalha; viu o Carlos Lisboa ao vivo; já teve a polícia a persegui-lo pela noite de Lisboa; concebeu, praticou e divulgou o OQEQOAJFNS; chorou ao ver o Nelo com a camisa 10 do SLB depois da saída do Rui Costa para a Fiorentina; já ouviu a América a cantar; esteve na festa dos 50 anos do Eusébio e, ao ver o Kempes, com uma barriga fradesca, a pôr a bola onde bem lhe apetecia com o pé esquerdo, percebeu que para sempre amaria o futebol mais do que qualquer outra forma de arte.*
Esta tem sido, de facto, em consequência do tão celebrado vitalismo obrigadosápíntico, uma vida preenchida, na qual o OSP experimentou e viu muito. Mesmo assim, o OSP não faz ideia de qual será a sensação de ter uma decisão do árbitro a seu favor no estádio do Porto.** Nem consegue imaginar como isso será — é-lhe impossível, não tem quaisquer referentes que lhe permitam que o faça —, tão-pouco alvitra quantos anos de vida serão precisos para que o saiba. É por isso que, para o OSP, essas histórias da concepção linear da existência não pegam.
Porto, 1 - SLB, 1
* Com possivelmente uma excepção.
** Hoje em dia, o OSP contentar-se-ia com uma falta mal marcada a favor do SLB na zona do meio-campo. Não é preciso exageros, tipo um livre junto à bandeirola de canto. Isso também era capaz de ser de mais. Um jogo perigoso em que o árbitro marcasse livre directo ainda no meio campo do SLB chegava.
É de sua condição dar a conhecer à bola os benefícios da madeira. Mas, se isso é bom para anúncios da Nike, para uma vitória do glorioso causa acidez bucal. Ainda que o Cardozo seja uma acidez bucal excepcional.
O que não é tão excepcional, ou fácil de engolir, é que o Quique insista em pôr a jogar um preguiçoso que não marca há 23 anos, em detrimento de alguém que já provou marcar dezenas de golos quando a jogar. Sentadinho no banco de suplentes é capaz de ser difícil.
Mas, no OSP, preferimos não ir mais longe neste tipo de críticas, pois aqui se passa algo de pessoal e íntimo (íntimo e pessoal, Pino e Lino, Lino e Pino) entre Quique e o jeitoso hondurenho.
Nós somos muito prafrentex, e, se o amor se encontra num palco relvado, também é bonito. Eu preferia que arranjassem um quarto e dessem o relvado a quem quer realmente jogar. Mas eu sou um gajo esquisito.
O futebol é um constante desafio da lógica e, consequentemente, da estatística. Não há outro desporto de competição em que uma equipa que não jogue praticamente nada possa ganhar um jogo – tipo RFA-Portugal de 85 – para além do futebol. E é este facto que permitiu a Trap juntar mais um título à sua montra transfronteiriça. Esse facto e o Apito Dourado, esse processo com conclusão dúbia, mas que transformou o Porto numa equipa que lida com as dificuldades das demais.
Como já referimos aqui, o SLB de Quique nunca poderá ser um campeão de peito feito, dominador, inquestionável, memorável. Será, se o for, mais um campeão à Trap do que à Toni, embora o início de época prometesse o exacto contrário. E, já descortinando esse facto, tínhamos referido aqui que faltava a esta equipa um Mantorras. E eis senão quando o próprio do dito cujo apareceu para nos safar do Rio Ave.
Por muita superstição e até fé que o OSP possa tentar ter, a aparição de Mantorras não é indício suficiente. Tal como na época de Trap, é com o Porto que se vislumbrará se a nossa esperança se poderá metamorfosear em confiança (mas confiança da verdadeira, não da josésocrática). Pois, nessa época, o velho Trap lá mexeu na sua equipa e colou um tal de Karadas encostado aos centrais do Porto e, com isso, empatou o jogo. E, reparem, até essa altura os jogos nas Antas eram autênticas finais de Grand Slam entre o Nadal e o Fed. Pois se no OSP não temos dúvidas que se, por absurdo, o Fed conseguisse ganhar uma final ao Nadal, teria uma overdose de adrenalina que o levaria a n.º 1 do Mundo e a largar a gorda bexigosa da namorada, também não temos dúvidas que, se arrancarmos no mínimo um empatezito lá em cima, lá teremos uma via aberta para, em meados de Maio, esquecermos este clima de crise durante uns bons dias.
Mas isso será apenas possível se a lógica estiver do nosso lado, ou seja, afastada lá das Antas. Caso contrário, repetir-se-á uma cena que aconteceu no passado domingo. Enviei uma sms para o Tó Portela com a pergunta embrenhada de esperança: “Então o Fed?” E a resposta, lacónica e ostensivamente declamadora da minha elementar falta de racionalidade no que diz respeito ao ténis, foi: “Nadal, mate.”