4.12.08

Entre Leverkusen e Vigo, sob a influência de Tyche

Há alturas em que nos sentimos como homens das cavernas. Enquanto cofiamos a barba (que não temos), sentimo-nos incapazes de compreender o que se passa à nossa volta e urramos com o desejo latente de arrastar uma mulher pelos cabelos.

A primeira versão deste post consistia num conjunto extenso de onomatopeias, separadas por reticências. Resultou de uma ligação directa ao cérebro, minutos depois do final do jogo, que, pobre coitado, entrecortava flatlines com urros.
Numa segunda versão, a prosa era inspirada em meios tão inspiradores como o mercado do bolhão ou o Cais do Sodré, e um sinónimo de proxeneta, no plural, era utilizado amiúde.
A terceira e definitiva ganhou forma após a leitura de um outro texto profissional sobre o jogo, efectuada dias depois do acontecimento, altura em que já se conseguia alinhar um esboço de raciocínio.
A propósito dos comentários ao jogo, tanto na televisão, como nos jornais desportivos, importa dizer que os jornalistas contemporâneos têm uma vocação mal disfarçada de magistrados e dos portugueses. Eles precipitadamente apontam o dedo, conseguindo julgamentos rápidos na praça pública, mas com casos prenhes de insuficiência de informação, quando não contradições.
Ora, no caso em apreço, o dedo foi apontado ao nariz da defesa encarnada. E recorreram ao futebolês, com expressões do género “em alta comEetição não se podem cometer erros destes”. Alta competição? O adversário foi o Olympiacos, pelo amor de Eusébio. Uma equipa perfeitamente integrada na Europa mediana, que de vez em quando até passa uma fase da Taça UEFA, mas que também leva cinco do Barcelona (como 98% de todas as equipas europeias, aliás).
A grande anormalidade deste jogo passou, em primeiro lugar, pela equipa grega ter marcado quatro golos em quatro remates. Isto não é eficiência – nem o próprio Henry Ford sonharia com este grau de eficiência –, é uma grandessíssima e alternadíssima vaca. Ou então, numa versão mitológica, foi Tyche que apadrinhou o Olympiacos. Numa versão católica, o SLB foi absolutamente abandonado pelas alturas (talvez, se a capela de Prieto ainda estivesse de pé, a nossa sorte fosse outra).

Quanto à nossa defesa, não houve uma grande diferença relativamente ao habitual. Os jogos em que o SLB não sofre golos são raríssimos. E mesmo naqueles em que não sofreu, foi porque tipos que conseguem conjugar o acertar na bola com o acertar na baliza são raríssimos. Tivesse o Penafiel um tipo com jeito para isso e a Taça de Portugal já tinha passado para o ano.
A única diferença foi a introdução de uma figura que só conhecíamos no ataque. Não é anormal ver um jogador solto na frente, mas o David Luiz criou a figura do jogador solto na defesa. E era vê-lo a aparecer tanto na direita como na esquerda, semeando o pânico na sua própria defesa. Mas não foi aí, reforçamos, que o SLB falhou, relativamente ao padrão a que já nos habituou esta época.

Foi nisto: aos 17 minutos, o Rúben passou para o Nuno Gomes (que estava em off-side), ainda por cima quando deveria ter empatado o jogo; aos 31 minutos, Suazo quis armar-se em Ronnie O'Sullivan e falhou o 1-3; mais duas oportunidades de golo na segunda parte.
Em resumo: entre uma reedição de Leverkusen e uma reedição de Vigo, a rapaziada inclinou-se mais para esta última.

No que ao OSP diz respeito, deixamos aqui uma declaração formal: o OSP avalizou o contrato do SLB com o Quique, sabendo perfeitamente da equipa irresponsável que aí vinha. Mas essa irresponsabilidade tinha dois lados: sofrer golos como a selecção portuguesa de futebol feminino e marcar golos à SLB versão Toni 94.
Assim sendo, o que se passou na Grécia consubstancia-se como uma rescisão unilateral de contrato. O OSP é uma entidade de bem e que acredita, francamente, no princípio da segunda oportunidade. Esperemos então que o Quique e os seus rapazes a saibam aproveitar.


Olympiacos, 5 – SLB, 1

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