15.3.09

O Padinha quer o livro de reclamações

Tanto para escrever e tão pouco tempo:


1. O OSP é, propositadamente, um saco de lacunas. Mas isso não quer dizer que não possa haver, aqui e ali, um esforço para as colmatar. Uma delas, tendo em conta que se trata de um blogue sobre o SLB e, por isso, indirectamente sobre futebol, tem a ver com o discurso, ora na primeira pessoa do singular, ora no plural jornalístico. Inspirado por Miguel Veloso, um moço claramente leitor dos livros da Anita, especialmente do "Anita vai ao cabeleireiro", hoje vou escrever, a partir do ponto 2., na terceira pessoa.

2. O Padinha, no post antecedente, atravessou-se num prognóstico. Terá dado azar? Não, certamente que não. O Padinha teve apenas uma fase de superstição, nomeadamente durante o caminho que nos levou, em 89/90, à final de Estugarda. Com o seu irmão, Padinha corria as casas de pasto da Rua dos Soeiros em busca de lombinhos de porco, missão essa bastante mais complicada em Bruxelas e em Estugarda. Ainda assim, esse reforço de colesterol não foi suficiente para contentar os deuses, que entenderam não dar confiança ao Veloso (o António, o outro, o Miguel, estava em casa provavelmente, na casa do Néné - a ler a Anita). E de superstições ficou o Padinha cheio.

3. O Padinha não foi, durante esta semana, inspirado apenas por Miguel Veloso. Foi, também, inspirado pelo benfiquista José Eduardo Martins, que, provavelmente por o ser, sabe bem que um bom e sonoro "Pró caralho" é largado de acordo com o interlocutor, e não com o local. E o tal de Candal visivelmente merece não só a sonora caralhada, como uma boa mochela encostada à testa. Mas a inspiração do deputado Martins acabou por ser indirecta, porque o que interessa para o post de hoje é outra citação de um político, bem imbuída de vernáculo: "Em Portugal, há tanta falta de profissionalismo, que até as putas se vêm." João Soares dixit.


4. O prognóstico não falhou. O Padinha não se baseou em qualquer conjugação astral, nem largou búzios ou cartas, porque tudo o separa da Maya (a começar pelo peito, bastante mais pequeno e peludo, e ainda de origem). O prognóstico assentou no facto de o Vitória, como todas as equipas treinadas por Cajuda, jogar o "jogo pelo jogo".


5. Jogar o "jogo pelo jogo" é a qualidade mais apreciada pela imprensa portuguesa, em qualquer treinador. Pois essa é a característica que irrita mais o Padinha, seja ela do Cajuda ou do Cruyff. Os treinadores não são pagos para porem a sua equipa a dar espectáculo, mas sim para porem as suas equipas a ganhar. O Padinha está-se a borrifar para o espectáculo, até porque detesta o suposto maior espectáculo do mundo, incluindo o Cirque du Soleil, esse filme de ficção científica de série Z com música de elevador. O Padinha quer que o SLB ganhe ou, no mínimo, que se esforce para o conseguir. E um tipo que "jogue o jogo pelo jogo", como Cruyff fez contra o Milan de Capelo, esse extraordinário profissional, está a gozar com quem lhe paga e o apoia. Está a demonstrar uma falta chocante de profissionalismo.


6. Não há nada melhor do que jogar contra uma equipa que "jogue o jogo pelo jogo". São equipas previsíveis e que deixam jogar. E, no passado sábado, foi o jogo em que os jogadores do SLB mais conseguiram ir à linha, apesar de se terem esforçado tanto como uma anémona. E, se tivessem feito uma reanimação cardíaca ao Cardozo procedimento que o Padinha aconselha a todos os 15 minutos que o fizesse esticar uma perna ou simplesmente não fugir da bola, lá teríamos marcado um golo na primeira parte, e lá teríamos o prognóstico do Padinha completamente certo.


7. Se há crítica que esta equipa do SLB não merece é a de "jogar o jogo pelo jogo". De facto, e com particular ênfase no jogo passado, o SLB não jogou o jogo. Ponto. Final. Parágrafo.


8. O Padinha, como já referiu, não quer a sua equipa a jogar o que se entende normalmente por bem. Não quer, de todo. Quer apenas, e o Padinha reforça o apenas, que façam aquilo que milhões de pessoas pagam para fazer diariamente: suar. E, no sábado, especialmente naqueles primeiros 15 minutos da segunda parte, em que os meninos pareciam ter saído de um copo de água, a coisa já foi mais do que medíocre, paupérrima ou qualquer outro adjectivo depreciativo. Foi o zero absoluto, algo que, supostamente, é um preceito teórico, mas que, afinal, acabou por ser demonstrado no Estádio da Luz.


9. O Padinha não conhece em detalhe a legislação aplicável ao Livro de Reclamações. Mas, depois do jogo com o Vitória, acha que o SLB deveria ter um. E o Padinha faz daqui um apelo a todos os benfiquistas: dirijam-se ao Estádio da Luz e peçam o livro de reclamações. Mas deixem que o José Eduardo Martins seja o primeiro a reclamar. Ele escreverá algo que a todos nós, naquele sábado, apeteceu dirigir àquela amálgama de corpos vestidos de encarnado.


Benfica, 0 - Vitória de Guimarães, 1

1 comentário:

dissident disse...

ja li ou ouvi algures que em certas pequenas comunidades castelhanas ainda no século xix, após qualquer contrariedade, apeavam os santos dos seus altares, atrelavam-nos a algum animal, faziam uma diferente espécie de procissão, arrastando os idolos pelo chão e insultando-os amargamente "puta madre, porque é que nos enganaste? nunca mais acreditaremos em ti"
é isso e só isso que me apetece fazer com este blog!