Três semanas e meia ausente, tanto que se perde, porque o devir benfiquista é ininterrupto. Contudo, há no OSP perspicácia pós-estival suficiente para o OSP admitir, até ao âmago dos seus terminais nervosos, que as entrevistas televisivas do Luís Filipe Vieira são, na verdade, excruciantes e quase insuportáveis comédias de embaraço, que superam tudo o que o Ricky Gervais alguma vez conseguiu sequer imaginar. E o facto de, a meio de Julho, a Judite de Sousa o ter convidado para uma conversa a dois no ambiente intimista da Grande Entrevista (ao OSP, parece que o Vieira se sentiria mais à vontade se se visse envolto pelo ambiente semitaberneiro que só uma Fátima Campos Ferreira consegue gerar) não é mais do que a prova de que o Fernando Seara está a arquitectar um sórdido plano secreto para vir a ser presidente do SLB.
Seja como for, houve, contudo, uma pérola no meio daqueles três quartos de hora de entrevista (que, se fossem um som, seriam a mistura do guincho de uma chave de fendas enferrujada a riscar um quadro negro e do silvo de uma rebarbadora a raspar numa placa de alumínio) que permitiu que o OSP ficasse a saber, e se sentisse confiante para o anunciar desde já (em primeira mão e tudo), que o Vieira vai ser o segundo maior escritor português da era Gonçalo M. Tavares. É um conhecido adágio literário, afinal, que a história é escrita pelos vencedores, e a literatura, pelos perdedores. Ora, tomando isto em consideração, se o Vieira nunca vier a ser julgado pela história como um vencedor enquanto presidente do SLB, ao menos o OSP vai comprar, sozinho, toda a primeira tiragem da sua autobiografia, quando ele honrar o País com a sua publicação.
Afinal, um homem que é capaz de dizer o que o Vieira disse viu ao que respondem as engrenagens da máquina do destino humano – percebeu algo sobre a natureza das coisas, sobre as pulsões do homem e do mundo, o homo homini lupus em que se sustenta a ilusão chamada sociedade, que o revela como tendo um olhar clínico e frio sobre a realidade que decerto o qualificará como futuro grande romancista. Talvez o naturalista que a literatura portuguesa nunca teve verdadeiramente, à imagem de um Zola, porém pós-moderno, como é óbvio.
E o que disse Vieira? Disse Vieira: "Para ter razão em Portugal, temos de ganhar." Touché, caro presidente, touché. E se é verdade que a verdade de Vieira (e o que é a literatura senão a busca de uma verdade?) não se limita ao que acontece em Portugal, o OSP tem absoluta certeza de que, daqui por 30 anos, as obras do Vieira tardio não deixarão de espelhar isso mesmo.
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