Ainda com os olhos encadeados com o brilho daquele cruzamento do Fábio para o segundo golo - um cruzamento à Beckham mas sem pose adamada - senti, e fortemente, que Jesus, esta noite, esteve a um passo da imortalidade.
Não pela goleada (outra), porque o SLB este ano debita golos como o nosso Governo emite dívida, nem pelo gesto rasteiro dos quatro dedos espetados, nem por qualquer outra coisa que se tenha passado durante o jogo.
Foi durante a flash interview que eu comecei a cheirar o momento, a imaginar uns segundos de youtube com triliões de visualizações, a preparar-me para daqui a uns 30 anos explicar este momento aos meus netos.
Jesus, segurando os braços enquanto triturava a pastilha, com o queixo mais tenso que o soutien da Simona Halep, disparou "Quer-me fazer mais perguntas sobre futebol?" ao repórter da SportTV. E eu imaginei o tipo de microfone a voltar a insistir na história do túnel ou a pedir a Jesus para comentar o facto de o Machado lhe ter chamado cretino e visualizei - em câmara lenta e a preto e branco, juro - a melena do Jesus a dirigir-se com inusitada violência contra a cabeça do anão irritante e BANG: Imortalidade. Primeiro treinador a agredir um repórter numa flash interview. O clip a abrir a CNN, a RAI, a BBC, e com destaque no Guardian, um oitavo de coluna no Times e uma referência na New Yorker. Imortalidade.
Mas não. A camisola do SLB pesa muito e reduz todos - até Jesus - a uma simples mortalidade.
SLB, 6 - Nacional, 1
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