Eu, pecador, me confesso: fui do FCP. Por um par de meses apenas, mas fui. Lá por 78 ou 79, influenciado por um vizinho mais velho e ofuscado por dois títulos seguidos, entreguei a minha pueril alma ao demónio. O meu pai, num gesto que nunca deixarei de lhe agradecer, fez-me ver a luz: eu queria uma bola, e o meu pai recusou. Porque bolas, disse ele, eram só para meninos do SLB.
O SLB era, de facto, a luz, neste país cinzento, neste "meu remorso de todos nós". Ao contrário do que muita gente apontava, o SLB era o clube menos português de Portugal. Este era provinciano, pessimista, invejoso, segregador, dependente. O SLB era universal, ambicioso, trabalhador, liberal. Enquanto, em terras africanas, se tentava calar os indígenas, no SLB punha-se uma braçadeira de capitão num negro. Quando os portugueses estendiam a mão, esmolando, a um parolo de Santa Comba Dão, os benfiquistas arregaçavam mangas e construíam um estádio.
Sim, o SLB não era como Portugal. Era como nós gostaríamos que Portugal fosse.
O SLB aportuguesou-se. Os dirigentes do SLB passaram a vender ilusões, como políticos, e os benfiquistas passaram a desejá-las, como eleitores. O defeso passou a ser uma campanha eleitoral, e Aimar, Reyes e Suazo, o TGV e os 150 000 empregos.
Esta época já tinha acabado. Logo após o primeiro jogo com o Trofense. Estes dois últimos jogos não merecem sequer um comentário, porque foram apenas dois sinais aproveitados pelo herdeiro oportunista para desligar a máquina.
Mas foi uma época diferente das anteriores. Foi a época de Rui Costa, o símbolo do SLB iluminado, o exemplo do homem com humildade ambiciosa, o herdeiro da linhagem real de Cosme Damião, Francisco Ferreira, José Aguas e por aí fora.
Mas, afinal, foi um ministro sem pasta. Mais do que também vender ilusões, foi ele próprio uma delas.
O SLB que o meu pai me apresentou "is no more". E, neste contexto, como é que se consegue aguentar ser benfiquista? Só me consigo lembrar do Lawrence da Arábia: "O truque", dizia ele, enquanto apagava um fósforo com a ponta dos dedos, "é ignorar a dor."
Nacional, 3 - SLB, 1
SLB 2, - Trofense, 2
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