20.4.09

Relavit Fósforo

A primavera invadiu Lisboa. E, com ela, não as flores, mas os outdoors, certamente num efeito adicional do aquecimento global. Do cimo do meu volante, dois captaram mais a minha atenção: o primeiro, do Avô Cantigas, anunciando uma mudança radical na sua carreira: depois do "Fantasminha Brincalhão", o "Nós, Europeus". O outro pareceu-me, num rápido olhar, memorabilia do PREC. Mas não, engano meu. Há mesmo alguém que, neste século,
defende - e com voz bem alta - nacionalizações.
É recorrente apontar-se a alergia dos portugueses às ciências exactas. Mas vários indícios, e mesmo provas, apontam para que haja uma alergia maior à História. Não é uma questão de falta de intelecto e no que ele tem de memória, porque há nomes e datas que ficam. Mas ilações, essas, não se tiram. Nós, como povo, não ligamos à nossa curva de experiência. Seguimos uma linha recta, infinita, de contínuas tentativas de invenção de rodas, que saem, persistentemente, tortas ou com os pneus furados.
Obviamente que é em tempos difíceis que há mais tentações para, mais do que esquecimento, revisionismo, fruto do desespero, alimentado pelo oportunismo. Por isso, há uma rua, algures neste país, com o nome de Guterres, Santana Lopes é candidato a um cargo político e, daqui a muito pouco tempo, Fátima Felgueiras constará que interrompeu o seu mandato para passar umas simples férias no Brasil.
E, enquanto mirava o tal outdoor e pensava nisto tudo, deixei-me divagar, ou melhor, refugiar no SLB, que, ainda assim, é um tema bastante menos deprimente do que o país que o acolhe.

No SLB, ignora-se apenas, vá lá, a história recente. Defende-se a estabilidade - "um treinador por três anos, dê lá por onde der" -, mas apenas no início e no final da época. Mas, no final da época, essa estabilidade defende-se, mas já com outro treinador (e, normalmente, também com outros dirigentes). Despreza-se o valor da experiência, a conclusão dos testes.

Defendo a manutenção do Quique. E não por o achar um treinador muito bom - basta, se tiverem paciência, relerem uns quantos posts deste blogue. Defendo a sua manutenção porque, para além de ser tão bom como qualquer outro treinador que o SLB consiga contratar,
está em vantagem. Porque já tem história, há coisas que ele já sabe que um novo vai ter de aprender e, no processo de aprendizagem, vai passar uma época a falhar. Como o Quique nesta época.
É o passado, a tal de História, que nos comprova o valor da estabilidade. Foi essa estabilidade que, numa altura em que o SLB já não tinha Eusébio, nem Coluna, nem mesmo Vítor Martins ou Vítor Baptista, mas sim Moinhos, Nelito, Jorge Gomes ou Paulo Campos, fez com que qualquer treinador, qualquer um, mesmo um Mário Wilson ou um cinzentíssimo Mortimore, se arriscasse a ser campeão. E era.

Mas, se calhar, sobrevalorizo a História, ou, pura e simplesmente, retiro dela ilações erradas, e o que precisamos é de correr com toda a gente: o Vieira, o Rui e o Quique no mesmo pacote. A minha escolha de princípio de estabilidade com o Quique, provavelmente, será uma espécie de roleta-russa. Talvez, com a idade, me tenha tornado reaccionário e incapaz de vislumbrar os novos tempos.

Mas, de facto, não gosto destes tempos novos: não quero voltar a despedir um treinador, não quero que se nacionalizem empresas, não quero o Santana na câmara e muito menos o Guterres como presidente.
Por mim, venha de lá a roleta-russa: na primeira rodada, tenho 5/6 de hipóteses de me safar, e ainda mais uma até aos 50%. É bastante mais do que me parece que teremos com um novo treinador.

6 comentários:

FNV disse...

eheheh...
Podes é jogar sozinho.:)))

FNV disse...

Só agora vi a foto: o filminho do Cimino, não é?

Ricardo disse...

Verdade verdadeira.

Em relação ao texto do FNV, ele tem razão em muita coisa. Só não tem razão no que defende.

Padinha disse...

FNV,"filminho"? Tu és mesmo um herege.

FNV disse...

Então não é? Tem comparação com o Full Metal Jacket?
Juizinho...

Padinha disse...

Entre um filme do Kubrick ( tirando o ultimo e o Lolita, que são quase terrenos) e um "filmezinho" há uma série de avaliações intermédias: o excelente, o muito bom, o bom, e por aí adiante. O Caçador, meu caro, é muito bom. Mas já vi que tens uma escala muito particular no que diz respeito, pelo menos, ao cinema e ao futebol (o Maxi é um lateral "razoável", escreveste tu).
Se fores assim com o Belo Sexo, manda-te o teu caixote do lixo. Não, diz-me antes onde o posso ir buscar. Urgente.