20.4.08

Dorzinha

Os 5-3, ou, no meu caso, os 5-1 (porque só vi a segunda parte), doeram. Mas não passaram de um forte entalão num dedo ou de um pneu furado enquanto chove: maçam intensamente mas são tão morredoiros como qualquer filme do Ridley Scott pós Blade Runner.

Nada que se compare, portanto, com os 7 a 1, esse AVC que ainda hoje me entaramela a voz e que me impede, há 20 anos, de entrar em qualquer imóvel cuja designação comece por “Alval”.
Um questão de expectativas, ou melhor, de falta delas, possivelmente. Uma coisa é, como há 20 anos, esperar ganhar, e ver a nossa rede metralhada pela então única equipa da 2ª circular a não passar do Natal. Outra coisa é um esperar perder tão forte que abafa até a mais desesperada esperança, e que nos prepara para qualquer intempérie. E mesmo com aquela primeira parte luzidia, com o Di Maria com o dedo, persistentemente, no interruptor, a esperança não acordou do seu coma.

Portanto doeu, claro que doeu, mas já passou. Mas, pensando melhor, talvez a principal razão para um tão curto luto não seja, afinal, uma mera gestão de expectativas. Porque se os 7-1 foram um AVC, os 5-0 (da Supertaça) contra a equipa com mais títulos do Porto, foram dois tumores e três hepatites rodeadas de HIV. Hoje, a minha mente já nem se lembra do que se passou nesta semana e está totalmente concentrada na preocupação de não perder por muitos no estádio mais arejado do país. Porque essas doem mais, doem sempre mais. Porque os lagartos, quando nos ganham, não fazem mais do que os lampiões: escrevem centenas de emails e sms sem graça, ligam a todos os que se lembram com um risinho parvo e dão apertos de mão de escola maçónica. Mas não insultam a minha mãe, nem querem queimar a minha cidade, nem muito menos me odeiam.

É, em suma, com o ódio que eu não suporto perder. Com uma simples rivalidade, um par de horas cura-me as feridas.

(Sporting, 5 – SLB, 3)

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