Agora que o Interesse Nacional, assim mesmo, em maiúsculas, é constantemente veiculado por qualquer tipo, desde o Presidente da República ao padeiro, é boa altura para colocar as prioridades em ordem.
Francisco Sá Carneiro referia que em primeiro lugar estava o país, depois os portugueses e só então o partido. Com as devidas e, acreditem, sinceras desculpas, permita-me, Senhor Doutor, se porventura me estiver a ler lá onde esteja, rectificar para:
primeiro o Benfica, depois o Eusébio, seguindo-se o país e alguns portugueses e os partidos que se lixem.
Após este necessário enquadramento, não será difícil constatar que o maior imperativo nacional não é reduzir o défice, nem dinamizar a economia, nem tentar ensinar os putos a ler e escrever mas sim pôr o Gaitan a jogar no meio.
Se tentássemos quantificar a importância de colocar o Gaitan a jogar no meio para a economia nacional em, por exemplo, pontos base de taxa social única, esta passaria a negativa, passando o estado a pagar uns bons 50 mil euros por cada colaborador que as empresas contratassem.
Gaitan no meio é, em primeiro lugar, humano, como oposição à desumanidade que é encostá-lo a uma linha. Não quer dizer que ele não o faça bem, fá-lo com a inteligência e a classe dos predestinados, e não da forma sôfrega e estruturalmente estúpida, embora frequentemente útil, reconheço, praticada pelo Di Maria.
O Gaitan preso numa linha é como vestir calças largas à Jennifer Lopez: para quê esconder tanta coisa boa?
Mas libertar o Gaitan para o meio não é fácil. Que ninguém pense que substituir o Aimar pelo Gaitan resolvia a coisa. Com os laterais perros que temos (ainda, no caso do Maxi, e, parece-me, até ao final da época lá pela esquerda) o Aimar tem que fazer de Riquelme, aquele papel irritante de "deixa estar que o pai faz", indo buscar a bola onde ele esteja, mesmo que à saída da área, porque os outros meninos não são capazes.
Não vamos gastar o Gaitan nisso. O Gaitan, como se diz em futebolês, tem que ficar no último terço. É aí que ele ata e desata defesas, encontra linhas para os seus passes, e espaço para os seus golos deliciosamente em câmara lenta.
Ora, para andar por esses lados, temos a melhor solução e a menos má.
Para a melhor, teríamos, em primeiro lugar, que resolver o engulho do Cardozo. O Cardozo, que eu até aprecio, embora, como qualquer outro fellow man, me enfureça com aquela pastelice, responde a uma necessidade ultrapassada a 25 anos: uma referência na área.
Para além de demodé, começa a ser confrangedor ver um jogador que teve nos primeiros indícios de qualidade o que foi afinal o seu auge. E desde o ano passado e daqui para a frente, como até o próprio Cardozo sabe, será sempre a descer.
Em resolvendo este engulho, poderíamos ter dois tipos móveis lá a frente. Podia-se manter o Saviola, que esta época até está a jogar menos com as canelas, e arranjar outro tipo, um Jara que consiga parar uma bola, um Lisandro Lopez, por exemplo.
Cá mais atrás, teríamos o Witsel, que é já, claramente, o único verdadeiro centro campista que o SLB tem desde o Stromberg, mais o Javi (eu preferia o Mastricht, mas se calhar já seria pedir muito).
A começar na direita o Gaitan, que com gajos que se mexessem na frente e se fossem encostando às pontas, já lhe permitiriam andar no meio à vontade.
Na esquerda Perez, Nolito ou o Bruno, sendo este o meu preferido.
Esta, meus amigos, era equipa para ganhar ao porto, ao Domingos e até a algumas equipas na fase de grupos da Champions.
A solução menos má seria substituir o Saviola pelo Gaitan.
Mas, infelizmente, não me parece que nenhuma destas hipótese avance e lá teremos a Jennifer Lopez de calças largas.