29.3.10

O Benfica à Benfica ganhou ao Porto à Porto

Durante a final da Taça da Liga estava em terra estrangeira. E passei regularmente pela RTP Internacional tomando crescente consciência de que i) o jogo não ia mesmo ser transmitido nem sequer uma porcaria de um resumo e ii) Portugal é o Cazaquistão, o que se comprova facilmente pelo incrível número de homens com valentes bigodaças e idosas com dentição francamente incompleta que por lá passam e pelos cenários repletos de plantas e jarras.

Não vi o jogo, portanto. Mas baseando-me nuns relatos que me fizeram - de gente idónea, porque benfiquista, mas parcial, porque benfiquista - tenho a dizer que o Benfica jogou à Benfica e o Porto à Porto. Quer isto dizer que o SLB jogou com garra (mesmo que qb) e o Porto com os pitons. Era mesmo o jogo para o Porto demonstrar que ainda podia jogar à Porto e ganhar. Só que o jogar à Porto passa essencialmente por pé certeiro na perna alheia e árbitro distraído. E como a distracção é bastante menor hoje em dia, o pé tem que bater mais na bola, o que é uma chatice.

Serviu este jogo para demonstrar que um Benfica à Benfica é melhor do que um Porto à Porto, e não só nos planos moral, desportivo e de entretenimento, mas também no plano do resultado.
E isto, meus amigos, representa uma vitoria do futebol. Até os adeptos do porto deveriam estar satisfeitos.

SLB, 3 - porto, 0

23.3.10

22.3.10

Ubíquo


O Benfica, o verdadeiro, tem de ser quase ubíquo. E de uma ubiquidade exemplar. Taça da Liga, Euroliga, Campeonato, e Taça. Distraiu-se aqui. Para o ano melhoraremos, tal como de um jogo contra o Marselha para outro. Não há cá deitar culpas para outros. Enfrentamos os nossos erros e melhoramos.


Outros acham que o truque é vender jogadores, comprar outros semelhantes, acossar ilegalmente os adversários no campo e controlar uns certos e determinados indivíduos fora dele, para que as coisas funcionem. A equipa não domina, a culpa é dos árbitros que não nos favorecem; a equipa não tem fio de jogo, a culpa é do Jesualdo e não da venda de jogadores chave, sem que os árbitros estejam devidamente assegurados; somos esmagados na Champions, a culpa é da temperatura e dos jogos em catadupa; o Hulk é suspenso, a culpa é do assistente que o provocou; perdemos a taça da liga, a culpa é de ser no Algarve; partimos vidros nos autocarros dos outros, a culpa é dos motoristas que colocaram as viaturas não à frente da baliza mas na rota de intercepção das bonitas trajectórias elípticas de pedras da calçada lançadas ao acaso. São satélites, Senhor. São satélites.


Nós melhoramos, e crescemos. Não ganhamos tudo, mas procuramos ganhar tudo.

A jogar futebol. Que é como deveria ser sempre.


Nacional, 0 – Benfica, 1

13.3.10

A mão de Mantorras

Deschamps foi um daqueles jogadores franceses baixinhos muito irritantes, na senda do Giresse. Juntar francês com irritante é redundância, eu sei, mas já o baixinho puxa pelo advérbio antes do adjectivo.

Mas era bom. Aliás, o mais irritantes nos irritantes franceses é que os tipos são bons em muita coisa, como fazer comida, criar gajas e jogar futebol. O Deschamps não me parece ser gajo que saiba estrelar um ovo e não tem focinho que permita descendência bela, mas era bom jogador e é bom treinador, facto que não será certamente alheio à sua passagem, como jogador e treinador, pelo Calcio.


E foi assim um bocado chato, para mim, apanhar com o Marselha do Deschamps. Isto porque, depois de ter largado um post de assumpção do Jesus (o Jorge) como meu Senhor, eis que o anão gaulês lhe dá um banho táctico. E um banho de imersão, ainda por cima.

Não vou aqui dissecar tecnicamente sobre o banho porque não só não me pagam para isto, como ainda estou a tentar que o meu cérebro me impeça de lançar uma petição pública para reeleger o Santana Lopes como Primeiro Ministro e está a ser difícil.

Vou só aqui expressar duas coisas:
- a primeira é que o Santana Lopes é o maior e que a vida devia ser um longo congresso do PSD ( desculpem, está mesmo a ser difícil evitar isto).
a verdadeira primeira é que o Di, lá está, ainda tem, a não ser que vá para o Manchester certo, um futuro de relativa banalidade, intercalada com uns lampejos de arte, concedo;
a segunda é que o Deschamps vai jogar lá como cá.

Daí que, como o Vata está velho, apelo ao Senhor Jesus (o Jorge) que convoque o Mantorras, porque vamos precisar de um factor algo para o sobrenatural para passar esta eliminatória.
E viva o PPD/PSD.

SLB, 1 - Marselha, 1

8.3.10

O Muro e o Móveis

Entre o pobre cliché de pedras derrubadas e madeiras erguidas, o Benfica acaba com ideias feitas e faz-nos regressar para onde os nossos anti nos mandam frequentemente, para a RTP-Memória. É que esta forma categórica de vencer parece ter saído daí, daqueles Benfica-Farense de 1992 que passam quintas à tarde. Curiosamente, também é para aí que os adversários do Benfica querem que os seus jogos sejam esquecidos, ainda que com cores mais vivas e em Alta Definição.

É bem verdade que, desde que cheguei à idade adulta (na qual me encontro, ainda hoje, apenas tecnicamente), que as vitórias têm sido injustamente escassas na terra do Bem. Porém, não necessito de nenhum familiar de genes matusalescos para me recordar das vitórias pífias da minha agremiação desportiva. Vencedores de oito campeonatos nos últimos cinquenta e dois anos, os Bettencoures têm no quarto, como poster mais recente, o Anastácio do Leão da Estrela, essa bela obra de ficção que conta histórias de um zbortém vitorioso.

Nada como um exemplo próximo (física, e espiritualmente; pois não nos esqueçamos que o zbortém foi fundado por ex-membros trapaceiros do clube do Bem) para nos pormos à coca e evitar erros alheios. A nossa provação, como é, já tem sido demais.

Não queremos glórias da década de quarenta como heróis (os que temos da de sessenta são super-heróis, maiores do que o mundo e o tempo, tal como o conhecemos). Queremos que este ano seja apenas o início; o início de um longo período em que o pêndulo do tempo pende para o lado do Bem.

Aí chegado, há que cortar-lhe o fio.

Benfica, 7 - Os Outros (Hertha/Paços), 1



2.3.10

E eles levantaram-se e andaram

Converti-me. Questionei, duvidei, resisti mas vi a luz. Jesus é o meu profeta.

Para além de ser um treinador que assume a táctica como algo flexível e determinante e que domina o futebolês (mesmo espancando dramaticamente a gramática) em absoluto, Jesus tem aquela qualidade que distingue os treinadores com sorte dos treinadores com arte: melhora os jogadores.

É uma qualidade rara e pouco notada, se não pouco apreciada, e que se sustenta em adorar futebol e, consequentemente, em adorar bons jogadores.

Por exemplo, Paulo Bento nunca será um grande treinador. Porque detesta bons jogadores e apenas suporta jogadores domesticados. Por isso, queimou jogadores de estimável potencial, como Vucevic, Veloso e até Moutinho, porque não teve, e não tem, arte para os melhorar, refugiando-se num papel de professor primário que não é capaz de incutir na sua aula o mínimo gosto por aprender, limitando-se a impingir meia dúzia de lições a decorar, encostando os alunos que torcem o nariz a um canto, com orelhas de burro.
Grandes treinadores transformam pedras em pão. Mourinho agarrou em jogadores com bilhetes só de ida para a banalidade e transformou-os, nem que fosse apenas em alguns momentos, em bons, grandes ou mesmo excepcionais jogadores. Ricardo Carvalho, Nuno Valente, Maniche, Joe Cole, Drogba, são alguns desses. Eriksson, anos antes, fez isso com Stromberg, Carlos Manuel ou o fdp.

E Jesus, em apenas alguns meses, já o fez, com, por exemplo, Coentrão, David Luiz, Di Maria e até o Saviola.

Fazer isto, repito, implica gostar muito de futebol e de bons jogadores. E há muitos, muitos anos que não gostávamos tanto dos nossos jogadores e do nosso futebol.
E isto é mérito, em absoluto, do nosso profeta.

Amén.

Leixões, 0 - SLB, 4