18.12.08

No, we can't

Não poderá haver verdadeiro benfiquista que, apenas por breves minutos, não adorasse ter Mário Wilson como treinador. Imaginemos que, no lugar do atlético Quique, tínhamos o idoso barrigudo vendedor de chuchas.
A atitude para este jogo contra o Metalist (designação que não envergonharia qualquer banda de heavy metal) seria radicalmente diversa. Porque, com o Grande Capitão, o SLB teria a obrigação de lutar pelo resultado e ele, com imponência, faria questão de afirmar a sua crença nessa demanda. E nós riríamos muito, e atestaríamos a sua incapacidade mental em todas as conversas que antecedessem o jogo.

Mas, quando a equipa entrasse em campo e víssemos Balboa na direita, Urreta na esquerda, Yebda a pivot defensivo, com Aimar e Rúben ao seu lado, e lá na frente Cardozo, Suazo e Nuno Gomes, um onze de sonho para qualquer treinador de bancada, por minutos (e cá estão os tais minutos) nós pensaríamos: “E se isto der? E se afinal for possível?” Mas depois, para aí aos 15 minutos, os outros tipos lá marcariam um golo e retomávamos a consciência. Mas, passados mais 10 minutos, quando o Mantorras entrasse a substituir o Sidnei, lá viriam mais uns minutos (dos tais) em que nós lá deixaríamos adormecer o cérebro, que retomaria sangue após o terceiro golo dos Iron Maiden ou Megadeath, ou lá como os gajos se chamam.



Pois não era, nem foi, mesmo possível.

Quanto ao que se passou no jogo, não há muito a adiantar, porque a primeira parte foi seguida pela rádio, e a segunda parte através do telemóvel. Problemas de infância impedem-me de aderir ao serviço que disponibiliza o Canal Benfica, porque a sua marca faz-me lembrar um colega da pré-primária, fanhoso e ranhoso (não sei se fanhoso porque ranhoso, ou ranhoso porque fanhoso), que, sempre que lhe pedia uma coisa qualquer, um carrinho ou um pião, respondia sempre: “É Meo.” Para além disso, vivo mal com o patrocínio da PT, que, não só nos pintalga uma bancada de verde, como nos põe um sapo à frente do nariz, como que a dizer-nos, antes de cada jogo, “lá vais engolir mais um”. Troquem lá a PT pela Vodafone, se faz favor.
Segundo os tipos da TSF, em especial aquele com voz professoral (mas que é um grandessíssimo xoninhas), o Quique deveria passar uns dias na Grécia, com uma t-shirt a dizer “Ζήτω η αστυνομία”. O homem até das patilhas dele disse mal. Mas eu não posso confiar em gajos que, passados 4 minutos, sim, 4, exclamavam “isto está uma pasmaceira”.

Por isso, olhem, o que fica para a história é nada, porque desta Taça UEFA não reza a história. Venha lá o campeonato, e livre-se o Quique de não me permitir a primeira consoada, em muitos anos, como líder.

Benfica, 0 – Metallica, 1

17.12.08

No armário

O que se passou com o Olimpyacos e com o Marítimo fica para a história desta época como erro estatístico. Nada ali foi provado ou desconstruído.

O que temos até agora são duas fases claras: uma de inconsciência e outra de vergonha. Na primeira fase, tínhamos Yebda e Carlos Martins empurrando a equipa para as mais desbragadas correrias, enchendo o lixo de alinhamentos tácticos. Na segunda, temos Kats e Bynia, segurando a quadriga, acotevelando a defesa na sua base.

Foi com vergonha de ser favorito, de ser candidato a vitórias, que o SLB se fez ao Mar. O Leixões está em segundo lugar na liga. Está. O José Mota, mesmo sem o boné laranja, é um bom treinador. É. O Leixões é uma equipa “superiormente orientada”. É. Mas nada disto faz com que deixe de ser o Leixões. Nenhum jogador do Leixões calçaria umas chuteiras do SLB, nem o Mota, mesmo com o boné laranja, assentaria as nalgas no banco encarnado.
Mas a equipa SLBiana achou que sim. E lá ficou, envergonhada, à espera de não sofrer um golo, e só nos últimos minutos deixou a sua intrínseca natureza tomar conta do jogo.

Não chegou. E não chegaria nunca, mesmo se o SLB tivesse marcado naqueles minutos de desconto ou de prolongamento.
O Quique tem de tirar a equipa do armário, tem de a fazer assumir-se. Que diabo, até o Goucha já o fez.

Leixões, 0 – SLB, 0 (5-4 gp)

16.12.08

Sem bandeiras desfraldadas

A bipolaridade benfiquista pode ser um interessante caso psiquiátrico, mas cria uma cadeia de maleitas que desencadeia em discussões de cardiologia. E eu, em geral, não gosto de proto-ataques cardiovasculares. É uma coisa que me chateia.


Porém, é a isso que nos tem levado a observação do Glorioso nestes dias invernosos. Isto quando, no quentinho da nossa poltrona, com a manta pelos joelhos e taça de chá na mão, deveríamos fruir com mais frequência do meu, em vão invocado, rolo compressor. Felizmente, com o Marítimo foi um desses dias. É este o Benfica que nós, os benfiquistas, merecemos. Mas, mais! É este Benfica que o Sporting e o Demo merecem! Máinada!



Mas o Benfica não se fica pelo presentear futebolístico. Toma posições políticas, de justiça, sem proferir uma palavra de ordem, um grito de revolta. Cientes da presença do amigo do Demo na bancada, o indescritível Alberto João, o Benfica demonstrou ser mais eficiente e nobre que José Manuel Coelho. Portou-se como o Jesse Owens dos Barreiros, relembrando aí os Jogos Olímpicos de Berlim de 1936.

Foi um momento de liberdade política e racial. Meia dúzia de golos ante o representante da irredutível ilha que resiste à democracia é um serviço não só aos benfiquistas, mas a toda uma nação de amantes do estado de direito. Se o Benfica é a mais nobre e unânime instituição de Portugal, podemos acreditar que ainda há esperança para o nosso país.

Alberto João, zero - Benfica, seis

P.S. Esta merece ser por extenso

5.12.08

Perdidas sadinas

Existe apenas uma razão pela qual acredito no título este ano. É o facto de o Benfica, mesmo sem exibições regulares e sólidas, se encontrar no topo da tabela, espreitando o primeiro lugar, invicto. E, com este jogo contra os sadinos, os encarnados vieram apenas reforçar os ânimos de quem subscreva esta minha visão.

Além disto, este jogo com o Setúbal vem também preencher uma lacuna importante. Caso o título acabe por escapar, este será daquelas partidas em que choraremos o par de pontos que nos escapou nos derradeiros instantes. Há que fornecer estas armas aos adeptos para que estes possam brilhar nas conversas de café.



Tacticamente falando, o buraco entre o meio-campo do SLB e a linha avançada foi quem mais deu nas vistas na 1.ª parte. Mais uma vez ninguém parecia notar aquele irritante handicap. E até uma equipa extremamente estéril, e desta feita a jogar provida até de um avançado de raiz (sim, Laionel, além de apresentar um nome ortograficamente adulterado ao nível dos melhores rappers mundiais, é tudo menos avançado), conseguiu recolher ao intervalo em vantagem.

Eis que, no arranque da 2.ª parte, parecia ter-se feito luz e a sorte estava connosco. A PJ tinha acabado de reencontrar Katso, que brilhou no reatamento, Quique parecia ter finalmente descoberto o vazio existente no meio-campo, que parecia engolir a equipa, que se mostrava faminta como se fosse um galhardo emblema oriundo da Eritreia.



Todavia, ao ver anulado o terceiro golo do jogo, a equipa pareceu pressentir o que se sucederia. E acreditem que só o Benfica tem potencial para conseguir sofrer nos instantes finais um golo de bicicleta, assinado por um defesa-central, cujo apelido consta apenas de uma singela letra.


SLB, 2 - V. Setúbal, 2


Graça, postado por Cosme

4.12.08

Entre Leverkusen e Vigo, sob a influência de Tyche

Há alturas em que nos sentimos como homens das cavernas. Enquanto cofiamos a barba (que não temos), sentimo-nos incapazes de compreender o que se passa à nossa volta e urramos com o desejo latente de arrastar uma mulher pelos cabelos.

A primeira versão deste post consistia num conjunto extenso de onomatopeias, separadas por reticências. Resultou de uma ligação directa ao cérebro, minutos depois do final do jogo, que, pobre coitado, entrecortava flatlines com urros.
Numa segunda versão, a prosa era inspirada em meios tão inspiradores como o mercado do bolhão ou o Cais do Sodré, e um sinónimo de proxeneta, no plural, era utilizado amiúde.
A terceira e definitiva ganhou forma após a leitura de um outro texto profissional sobre o jogo, efectuada dias depois do acontecimento, altura em que já se conseguia alinhar um esboço de raciocínio.
A propósito dos comentários ao jogo, tanto na televisão, como nos jornais desportivos, importa dizer que os jornalistas contemporâneos têm uma vocação mal disfarçada de magistrados e dos portugueses. Eles precipitadamente apontam o dedo, conseguindo julgamentos rápidos na praça pública, mas com casos prenhes de insuficiência de informação, quando não contradições.
Ora, no caso em apreço, o dedo foi apontado ao nariz da defesa encarnada. E recorreram ao futebolês, com expressões do género “em alta comEetição não se podem cometer erros destes”. Alta competição? O adversário foi o Olympiacos, pelo amor de Eusébio. Uma equipa perfeitamente integrada na Europa mediana, que de vez em quando até passa uma fase da Taça UEFA, mas que também leva cinco do Barcelona (como 98% de todas as equipas europeias, aliás).
A grande anormalidade deste jogo passou, em primeiro lugar, pela equipa grega ter marcado quatro golos em quatro remates. Isto não é eficiência – nem o próprio Henry Ford sonharia com este grau de eficiência –, é uma grandessíssima e alternadíssima vaca. Ou então, numa versão mitológica, foi Tyche que apadrinhou o Olympiacos. Numa versão católica, o SLB foi absolutamente abandonado pelas alturas (talvez, se a capela de Prieto ainda estivesse de pé, a nossa sorte fosse outra).

Quanto à nossa defesa, não houve uma grande diferença relativamente ao habitual. Os jogos em que o SLB não sofre golos são raríssimos. E mesmo naqueles em que não sofreu, foi porque tipos que conseguem conjugar o acertar na bola com o acertar na baliza são raríssimos. Tivesse o Penafiel um tipo com jeito para isso e a Taça de Portugal já tinha passado para o ano.
A única diferença foi a introdução de uma figura que só conhecíamos no ataque. Não é anormal ver um jogador solto na frente, mas o David Luiz criou a figura do jogador solto na defesa. E era vê-lo a aparecer tanto na direita como na esquerda, semeando o pânico na sua própria defesa. Mas não foi aí, reforçamos, que o SLB falhou, relativamente ao padrão a que já nos habituou esta época.

Foi nisto: aos 17 minutos, o Rúben passou para o Nuno Gomes (que estava em off-side), ainda por cima quando deveria ter empatado o jogo; aos 31 minutos, Suazo quis armar-se em Ronnie O'Sullivan e falhou o 1-3; mais duas oportunidades de golo na segunda parte.
Em resumo: entre uma reedição de Leverkusen e uma reedição de Vigo, a rapaziada inclinou-se mais para esta última.

No que ao OSP diz respeito, deixamos aqui uma declaração formal: o OSP avalizou o contrato do SLB com o Quique, sabendo perfeitamente da equipa irresponsável que aí vinha. Mas essa irresponsabilidade tinha dois lados: sofrer golos como a selecção portuguesa de futebol feminino e marcar golos à SLB versão Toni 94.
Assim sendo, o que se passou na Grécia consubstancia-se como uma rescisão unilateral de contrato. O OSP é uma entidade de bem e que acredita, francamente, no princípio da segunda oportunidade. Esperemos então que o Quique e os seus rapazes a saibam aproveitar.


Olympiacos, 5 – SLB, 1

27.11.08

Quero o clique!

O Benfica corre o risco de ganhar habitualmente. Em Portugal, vivemos assim durante 48 anos e as consequências não foram as melhores. Mas ganhar habitualmente não é uma má sensação para quem passava vergonhas com semelhante regularidade. Apenas tenho embirração por ganhar à Demo. O Demo teve um período em que ganhava habitualmente. Num jogo seguro (graças às viagens ao Brasil e às suas nacionais em terras lusas emigradas) e certinho. Aquilo eram épocas seguidas de um futebol modorrento, minando o jogo do outro, enfastidiando-nos até ao estupor. Nós gostamos é de bola. Lembro-me de estar a ver o Manchester City-Chelsea (do Mourinho) e desejar estar no Carlisle-Bradford United de uns meses atrás e £22 a menos.


Se tivéssemos uma equipa de Nelos, Tavares e Paredões, ganhar assim far-nos-ia ter um sorriso nos lábios ante os nossos colegas súbditos de Paulo Bento (bem, na verdade já o temos….)


Uma pessoa não quer andar com aquelas metáforas de “fomos dar uma lição aos estudantes” e tal, até porque gente que contrata um esbirro do Demo-mor, com tendência para olhar para o chão quando há cotovelos à solta contra jogadores da sua equipa, é, redundantemente, idiota. Ter o Domingos não há Paciência a dirigir jogadores é meio caminho para a perda do espírito de equipa. Contudo, há que reconhecer a sabedoria de inovar nos ínvios caminhos para o domínio do futebol português e o seu apodrecimento. Não contente com o comprar de jogadores de rivais para os debilitar, o ceder de outros para minar adversários, e o alugar de árbitros à jorna, resolveu emprestar treinadores. É vê-los a pejar ex-jogadores imbuídos do espírito fóculportista (viscosidade, trapaça e cheiro a enxofre), por equipas adversárias. Ora, se havia o costume de não se jogar com jogadores emprestados contra a casa-mãe, parecia-me bem proibir treinadores de treinarem contra a casa-mãe. Permita-me, quem já está a pensar argumentar que isso só fragilizaria a equipa adversária do Demo, que discorde por antecipação, lançando um argumento preventivo e, a meus olhos, evidente. É preferível ter uma equipa (supostamente) desorganizada do que uma instruída para perder. Imagino a tensão dos jogadores numa equipa do Domingos não há Paciência que se arriscam a jogar bem contra o fóculporto …


Dito isto, estou muito agradecido ao Quique por nos ter posto a ganhar, por ser um treinador capaz e um homem inteligente, conhecedor, bem-formado e bonito. Na verdade, a definição de

um verdadeiro benfiquista, espécie há muito arredada dos bancos benfiquistas (lembremos que os bigodes foram, no seu tempo, imprescindíveis para a beleza de um homem).


Estou, dizia, agradecido. Agradecido mas expectante. Parece-me que falta um clique ao Benfica. Um daqueles cliques salvadores que farão do Benfica um rolo compressor. É que o tempo está a passar e, daqui a uns meses, nem Reyes nem Suazo por cá se encontrarão. Precisamos de um clique como os daqueles pára-quedistas aliados lançados atrás das linhas inimigas na Segunda Guerra, e que os salvou de levar um balázio. É que, meus amigos, nem me passa pela cabeça não ser campeão este ano. E em estilo. Venha então esse clique salvador.



Académica 0 – Benfica 2

17.11.08

No Name Boys no TIC - as verdades

Escomalha da mais reles que pode existir
Hugo Dias
.
Todos nós temos um NN dentro de nós
Trivelasvesgas
.
Ainda por cima burros, porque usam um símbolo de extrema direita, quando grande parte dos elementos da claque, pela sua etenia, seriam alvo de discriminação nazi
Carla Gonçalves
.
Aprendam a não cuspir para o ar, pois no melhor pano cai a nódoa
António Abreu
.
Temos os ladrões do BPN á solta e a procurar um novo emprego provavelmente nalguma Empresa Pública mas o que os media e os ACAB querem é tentar destruir e enxovalhar um Grupo que não aceitou vergar-se perante mais um ataque á Liberdade de Expressão em Portugal
Hugo Castro

Excertos dos comentários à noticia no Record

Show me da money!

Pensar em todos os cêntimos que desperdicei neste jogo de salários em atraso… bem falta fariam a alguns jogadores do Estrela.

Fico sempre maravilhado como diferenças abissais de salários se esbatem em campo. É algo a que já me habituei, mas fico sempre maravilhado, apesar de um gajo se habituar à maravilha poder ter consequências quando chegado ante o Grand Canyon. Se alguma vez lá for, logo vos contarei se o baile que o Gondomar deu aqui há uns anos em nossa casa danificou de modo permanente a minha capacidade de percepcionar o mundo exterior.


Bem sabemos que o jogo de domingo não era propício a este tipo de maravilhamento; para haver uma "diferença abissal de salário", é necessário que uma das partes o tenha. O salário. De certo modo, o Benfica ganhou um a zero a uma equipa de amadores. Diga-se que ganhou bem, tão bem quanto mal jogou. Se o Nuno Gomes não aguentasse a bola na área (como se de Brian Deane se tratasse) três ou quatro segundos antes do passe para o puto, as coisas teriam ficado ainda mais manhosas.


Apesar de tudo, tenho esperanças num bom resultado no campeonato. Afinal de contas, fomos o único dos três grandes que conseguiu pontuar com o líder. E em sua casa! Grandes feitos nos estão destinados, seguramente.

De qualquer modo, resta-nos acreditar no futuro, já que o presente nos coloca algumas dúvidas. Uma equipa com Suazo, Aimar, Cardozo e Reyes que não consegue dominar um jogo contra virtuais amadores não é realmente uma equipa. Aliás, os constantes e perenes apelos à compreensão de um período de "contrução da equipa" começam a soar estafados. Quão difícil é reunir uma equipa minimamente coerente para bater o Penafiel?


Mais uma vez foi preciso recorrer a S. Joaquim de Famalicão e à tão mal amada Maria Amélia.


Resta-nos ser estóicos e continuar a acreditar nas obras de Santa Engrácia da Liga Sagres.

E rezar para que não venha aí nenhum terramoto.

16.11.08

Cuíca, cuíca, cuíca

O timing do nascimento do OSP não foi excelente. Seria, se as suas faces se tivessem enchido de borbulhas na década de 50 e não de 80, se tivesse trauteado “Lá vamos, cantando e rindo, levados, levados, sim, pela voz de som tremendo, das tubas, clamor sem fim” e não “See them walking hand in hand across the bridge at midnight, heads turning as the lights flashing out are so bright”, se assistisse aos socos no ar de Eusébio e não ao encosto de Bento a Manuel Fernandes.
Não foi excelente, sem dúvida, mas foi bom. Começámos com Baroti, um protótipo de bom homem, e continuámos com Eriksson, um daqueles que, sem aviso, mudaram o futebol. Como afirmou Fernando Martins, outro bom homem, numa inesquecível entrevista televisiva: "Eriksse é, cuíca, o melhor treinador do mundo.”
Ver a nossa equipa a ser treinada, não só por, “cuíca”, o melhor treinador do mundo, mas, e essencialmente, por alguém que revolucionou o jogo, é, por um lado, um privilégio, mas, por outro lado, uma espécie de maldição.
Depois disso, tudo parece pouco. A exigência agiganta-se, e, com ela, os treinadores – muitos – apequenam-se aos nossos olhos.
Uma das grandes qualidades do gentleman sueco era a disponibilidade táctica, um sinal claro de inteligência. Recordemos uma eliminatória com o Olympiakos, de 83, em que, da primeira mão, trouxemos uma desvantagem de um golo. Na segunda mão, Eriksson apresentou 3 defesas, com um magnífico Shéu à sua frente, e perto da baliza o estilista Filipovic a marcar cedo um golo, num toque superlativo de destreza. Depois do veludo do jugoslavo, a ganga do dinamarquês Maniche, que não só massacrou uma defesa preparada para algo mais macio, como fechou o jogo disparando o três a zero.
Um treinador inteligente não hesita em procurar superiorizar-se a um adversário, quer através de uma escolha criteriosa de jogadores, quer através de uma modificação táctica.
Quique andava-nos a preocupar. O 4-4-2 entretinha-nos, mas desesperava-nos, quando desalinhava em 4-2-4 e a preocupação-mor residia num prenúncio de monotacticismo, e pesadelos começavam a surgir em que Quique, por detrás da sua guapa figura, escondia um coração de Peseiro e um cérebro de Fernando Santos.
Contra o Aves, Quique mudou, e a mudança transbordou para o jogo contra o Estrela da Amadora. É um sistema que o OSP não abraça, de forma continuada, mas que suporta. É bom ver o Aimar ali, apesar de pouco ter jogado hoje, e um meio-campo com gente. Não é sistema com futuro, porque já não temos um Simão que carregue a bola para fora daquele diamante, nem laterais que consigam cruzar sem acertar nos defesas primeiro. Mas é um outro sistema. E, do pobre jogo de hoje – sem quaisquer segundas intenções para com os jogadores do Estrela de Amadora –, fica-nos a esperança que Quique, afinal, seja, “cuíca”, um bom treinador.



SLB, 1 – E.Amadora, - 0

14.11.08

A Taça não voou

O Desportivo das Aves apresentou-se na Luz de forma tão macia que, aos 3 minutos de jogo, já qualquer penafidelense tinha arranjado forma de poder enxovalhar, durante uns tempos, qualquer habitante da Vila das Aves.


O Desportivo das Aves apresentou-se na Luz de forma tão macia que Quique poderia perfeitamente ter feito alinhar Pedro Emanuel no lado esquerdo da defesa, ou outros alinhamentos ainda mais inacreditáveis (se tal for possível).


Quique que apresentou a equipa de forma superinteligente. Fez o Benfica esquematizar-se baseado no losango, levado à fama pelo Sporting. É tido como um esquema tão bem engendrado que torna vitoriosas equipas que nem alcançam uma qualidade de jogo medíocre. Sim, porque o Sporting, além de ter sido reconhecido como o emblema luso que mais cedo se qualificou para a fase eliminatória da Liga dos Campeões, devia também ter sido reconhecido como a equipa que se qualificou jogando de forma mais paupérrima…


Yebda fez questão de demonstrar que a síndrome gripal que o debilitou contra os otomanos não era gripe das Aves ao inaugurar o placard com o cabeceamento mais ortodoxo dos últimos anos. Maxi Pereira fez uma exibição galharda (coroada com um golo proporcionado por mais um toque de génio) e, se continuar a exibir-se desta forma, ainda vão pensar que foi Cristian Rodríguez que chegou atrelado a ele e não vice-versa. Binya voltou a fazer-me desejar que ele tivesse os pés de determinado grego vagaroso, que só marca golos na selecção e que não corre nem a bolas que lhe cheirem a biqueira das chuteiras. Balboa voltou a frustrar os jornalistas e a mostrar que todas aquelas manchetes gloriosas, com trocadilhos envolvendo filmes de Sylvester Stallone, podem ir para a gaveta. Tendo em conta que o melhor que fez no jogo foi roubar bolas aos oponentes, Quique deveria testá-lo a lateral-direito. Afinal de contas, a extremo já vimos que não dá. A sorte de Balboa é ter colegas solidários, como Urreta, que decidiram apresentar um nível de jogo de igual mediocridade.


Não foi o jogo de alto nível que a Liga Protectora dos Animais previa, tendo em conta que envolvia águias e outras aves. Mas importa principalmente o facto de a Taça não ter voado.


SLB 3 – D. Aves 0


Graça, postado por Cosme


Hoje começamos com o que poderá ser um hábito. Contarmos com um convidado de espírito obrigadosápintiano. Durante algumas semanas teremos connosco Graça, directamente da Terra Quente e indolente.


10.11.08

A culpa é da UEFA




Este organismo deveria pôr os olhinhos na União Europeia. Essa coisa de ter turcos no meio de nós só traz problemas. Habituados a calcorrear terras europeias, plantando minaretes e mulheres de burka, não respeitaram Lisboa. Fizeram na nossa cidade a Viena que não conquistaram em 1683. E à frente dos meus olhinhos, que viram os maliciosos turcos ludibriarem os nossos doces e ingénuos centrais.

É certo que o Yebda contribuiu para a vitória dos seus correlegionários religiosos (é por estas e por outras que deveríamos ponderar as lealdades de certos e determinados cidadãos aos estados nacionais e ao grande desígnio europeu), coxeando por todo o campo enquanto oferecia bolas ao campo galatasariano. Mas todos sabemos que o futuro do cristianismo, dos seus valores conservadores e sexualmente repressores (mas, ainda assim, muito nossos), se encontra em terras do Novo Mundo. Não foi por isso de estranhar que as movimentações de Suazo, sempre azafamando a defesa otomana, tenham mantido o espírito de Lepanto bem vivo.




E ainda houve tempo para ver o nosso santo cristão, S. Joaquim de Famalicão, salvar a nossa honra de mais aviltantes humilhações, como já é hábito, e constatar que o jogador em campo que quer sempre realmente vencer é o nosso lateral-esquerdo, seja este, seja o outro. Acho que é da ervinha que grassa por tais locais. Apesar de ser triste ver o Jorge Ribeiro a querer ganhar mais do que o Aimar, o Reyes ou o Cardozo.

Houve falta de respeito por um dos valores basilares da União Europeia, um dos princípios que faz da cultura europeia o que é, a par da abolição da pena de morte e da democracia liberal, o «não vencerás no Estádio da Luz». A quebra de tal princípio é, só por si, suficiente para adiar sine die a entrada dos Otomanos na União Europeia. Lá que enforquem pessoas, destruam cidades curdas, genocidem arménios ou não tenham liberdade de expressão, é uma coisa, mas vir ganhar à Luz é demasiado!

Há que traçar um limite, dizer «basta», c'o Diabo!

SLB 0 - Otomanos 2

6.11.08

Xistra vs People

O enquadramento jurídico de um país deveria, em tese, responder às mutações da sociedade. No entanto, por várias razões, sendo a mais forte o afastamento entre quem o define – o estado – e os seus destinatários – nós todos –, a lei, quer a sua letra, quer a sua aplicação, acaba por nos marcar o passo, independentemente da nossa vontade de avançarmos mais rápido ou noutra direcção.
No OSP, temos um fraquinho pelo sistema anglo-saxónico. É, na sua aparência, se bem que nem sempre na sua essência, um sistema que persegue a justiça, baseando-se,em grande parte na experiência passada – a chamada jurisprudência. Contrasta com o nosso sistema franco-germânico, que privilegia o cumprimento do que está escrito, independentemente das eventuais particularidades dos casos em apreço.


Por muito que o sistema não continental possa provocar alguns arrepios, e com isso ser hipótese afastada dos nossos tribunais, tem uma vantagem enorme e inegável: é fonte de bons filmes e séries. É absolutamente impossível imaginar uns bons minutos de fita inspirados no nosso sistema legal, embora alguns acólitos dos Cahiers du Cinéma não desdenhassem umas boas 4 horas de cenas de tribunal portuguesas captadas pela mão inerte do Mestre Manoel de Oliveira.
Somos o que somos, podemos fazer o que fazemos, e a tal da jurisprudência afunda-se debaixo dos quilos de códigos que os políticos alimentam constantemente.

O futebol é, assumidamente, uma vítima da lei escrita. Aliás, é plenamente e acabrunhadamente aceite que não há justiça no futebol. Apesar disso, há árbitros – os juízes supremos dos tribunais de relva – que apostam no julgamento do caso concreto, no juízo amplo, no critério largo, e que produzem legislação particular.

Xistra, no Guimarães-SLB, reescreveu, com uma dose enorme de criatividade, a Lei 12 (ver partes a negrito):

(...) Um pontapé-livre directo será concedido à equipa adversária do jogador que no entender do árbitro cometa, por negligência, por imprudência ou por excesso de combatividade, uma das seis faltas seguintes:
· dar ou tentar dar um pontapé num adversário, excepto se o atingir na face direita.

(…) Um pontapé livre directo será igualmente concedido à equipa adversária do jogador que cometa uma das quatro faltas seguintes:
· entrar em tacle sobre um adversário para se apoderar da bola tocando nele (..) excepto se o adversário for natural da Argentina e tenha menos de 1,75 m de altura.
. agarrar um adversário, excepto se este for bastante corpulento.

(..) Todo o acto de simulação que tenha lugar no terreno de jogo com a finalidade de enganar o árbitro deve ser sancionado como comportamento antidesportivo, devendo igualmente sancionar-se o adversário mais próximo do local onde a simulação ocorreu.

Xistra é, claramente, um adepto da jurisprudência, inspirando-se, provavelmente, em casos tão célebres como People vs Pratas ou People vs José Silvano.


Mas não há, de facto, justiça no futebol. Se houvesse, aos 14 minutos do Guimarães-SLB, o Xistra apontaria para o centro do terreno, apitaria duas vezes e explicaria, desta forma, esta decisão apenas aparentemente insólita aos vimaraneneses: um passe de letra, de primeira, de 30 metros, recebido sem mácula, conduzido e executado (quase) à Eusébio, não é algo que possa, nem de perto, ser reproduzido pelos vossos rapazes. Por isso, vão para casa e revejam este golo em loop, dando graças pelo dinheiro que (bem) investiram nestes 14 minutos.

Guimarães, 1 – SLB, 2

5.11.08

Vergastadas tardias


O Suazo é concorrência desleal, para o campeonato e para o Cardozo. O gajo é forte, jeitoso (e não é só pelas as pernas bem torneadas), rápido e pode ser que marque uns golinhos.

E o Cardozo no banco... O Benfica com um goleador no banco. Que veremos a seguir? Um portefólio de acções a valorizar? Um presidente do Porto que nunca tenha comprado árbitros? Um criacionista como vice-presidente dos EUA?... Eh pá... medo...

Confesso que esta substituição do Cardozo pelo Suazo me faz lembrar a do Quim pelo Moretto (embora admita que comparar o Suazo ao Moretto seja como comparar um gajo manhoso de Alfama com o Pablo Escobar).

O nosso Quique embirra com canas que abanam com o vento, mesmo que estas sirvam para vergastar pescadores atrevidos. Como foi o caso.

Aliás, o amor entre Cardozo e Léo, por demais evidente, partirá desse comum sentimento de desamor que Quique lhes destina.

Quique nem precisa de amar Cardozo (já se sabe que os seus desejos mais recalcados se dirigem ao jovem trota-mundos que agora trota pela nossa ala esquerda), basta que o deixe jogar (logo, marcar).

Porque isto, amor, amor, golos à parte.

SLB 2 - Naval 1

23.10.08

"Só tu é que marchas bem"

Há poucas afirmações que provoquem tanto aceno afirmativo de cabeças como “os jogos decidem-se no meio-campo” ou qualquer outra que integre as palavras “Soraia”, “Chaves” e “boa”.
A unanimidade está longe de ser um carimbo de veracidade, mas, no primeiro caso, a afirmação comprova-se pelo menos desde o Brasil de 70 (quanto ao segundo caso, é tema para desenvolvimento de outros blogues).
O meio-campo impõe o ritmo do jogo: pela maneira como procura conquistar a bola e em que ponto do campo o faz, pela velocidade com que troca a bola e quando é que a solta para os atacantes, pela elasticidade na união à linha defensiva ou à linha atacante. Uma equipa muito boa impõe o seu ritmo à equipa adversária, condicionando-a a jogar o que a primeira deixa.
Ainda é cedo para definir globalmente o perfil de Quique Flores. Mas, pelas primeiras impressões, o sobrinho de Lola entende o meio-campo como um guarda de passagem de nível: dá instruções para a bola passar. Claro que se trata de uma evolução enorme face a Camacho, que assumia o meio-campo como um controlador aéreo, mas, ainda assim, e apesar de no OSP cedo termos adivinhado que nos esperava uma equipa “de ir para cima deles”, temos algum pejo em incomodar sistematicamente o Prof. Fernando Pádua.


Mas em Berlim, mais uma vez, lá estivemos à beira de um AVC. Aquele 4 de hoje, apesar de integrar Reyes, o melhor alto-pressionador desde o Derlei de Mourinho, com um tempo e uma intensidade próximas da perfeição, integra, também, um geneticamente inábil para o efeito (Nuno Gomes) e dois exclusivamente virados para o ataque, com um deles amiúde mais virado para o absoluto imobilismo (Cardozo).
Com Yebda a acompanhar Katso, a “coisa” disfarça-se, porque o calmeirão sabe receber uma bola, tocá-la, passá-la, enquanto distribui umas encostadelas encorpadas. Mas com Bynia, o disfarce é de loja de chineses, desfazendo-se rapidamente.
Com o golo de Di María, muitíssimo próximo de um enchido, surgiu a oportunidade, através das substituições, de pelo menos passar o meio-campo para três. Mas, apesar dos conselhos de Álvaro Magalhães – “Iehhh… agora deverá sair Nuno Gomes ou Di María… iehhh…para entrar Carlos Martins, para que… iehhh… o Benfica retome o meio-campo” –, Quique, substituindo Katso por Carlos Martins, ainda o reduziu, passando a jogar em 4 - 1,5 - 4,5.
O Hertha não tem equipa para um real massacre, mas, ainda assim, nos últimos 20 minutos esteve tanto tempo na área do SLB como Quim. Valeram Luisão e Sidnei, que, quais David Robinson e Tim Duncan, lá foram varrendo a bola dali para fora.

O resultado foi bom. E foi justo, porque o Sidnei fez aquele passe à Aldair para o Suazo (no OSP, defendemos que há certos passes que deveriam ser considerados golos – Rui Costa teria recebido diversas Botas de Ouro).

No OSP, não somos pró-modernidade ou ovelhas do rebanho da contemporaneidade. Mas convenhamos: nenhuma equipa que aposte em ganhar alguma coisa no Velho Continente alinha, hoje em dia, em 4-2-4.
Mantemos a esperança que Quique Flores não seja como aquelas mães que insistem que o seu filho é o único que está a marchar correctamente na parada. Por isso, vamos presumir que o 4 da frente se deveu à ausência de Rúben Amorim e de uma alternativa válida para Yebda.

Hertha de Berlim – 1, SLB - 1

20.10.08

Não brinquem com isto, pá

Estava eu ainda com trabalho para fazer, o laptop já ligado, antes do jogo já a escrever mentalmente este post, ia escrever que o Penafiel me faz lembrar o Nuno Brás, um relator monocórdico que acompanhou o meu despertar para o futebol, nomeadamente no Mundial de 82, e como o homem me irritava, porque tinha uma absoluta incapacidade de identificar os jogadores da minha RFA, e punha muitas vezes o Dremler a cruzar para o cabeceamento do mesmo Dremler, e o que liga esse tal Nuno Brás ao Penafiel é um jogo com o SLB que julgo que acabou empatado e em que o Nuno Brás passou a jogo a fazer as habituais referências ao relvado – “as equipas entram no relvado”, “o jogador encontra-se prostrado no relvado”, etc. –, só que o jogo foi num pelado, e daí eu partiria para referências aos anos 80, e a equipa actual do Penafiel muito ajudaria a isso, porque ainda tem jogadores com duplos diminutivos como “Zé Nando”, e equipamento de marcas exóticas como “Desportreino”, o que me fez lembrar dos ténis Sanjo e os equipamentos Marsil, que me arrasaram, quando jogava futebol de salão, os pés e as virilhas, e ainda o bigode professornequiano do seu treinador, e, resumindo, teria um post com tudo isto e uns comentários lacónicos aos golos do SLB.


Mas não. Três horas estive eu naquele sofá, e é tamanha a minha incredulidade (que supera, largamente, a minha fúria) que em vez de ter ido trabalhar ainda estou para aqui a escrever isto. Mas isto do Queiroz pega-se, é? Vamos lá a ver: o Moreira continua, apesar de já ter o rabo quadrado, a ser o melhor guarda-redes do SLB, o Miguel Vítor um puto muito jeitoso e o Luisão e o Sidnei muito sólidos. Por aqui tudo bem. O pior foram os restantes 7: o Léo, de repente, sentiu o peso da idade; o Balboa é, na verdade, o Apollo Creed, logo após ter levado aquele valente “banano” do Ivan Drago; o Binya é o Binya; o Rúben jogou ao lado do Binya; o Urreta até não teria jogado mal, se tivesse a idade do Léo, mas tem metade; o Di María cada vez mais parece um daqueles jogadores das escolas do Sporting que não passou nem pelo Barcelona, nem pelo Man Utd; o Makukula é como o Binya, mas em maior.
O Reyes e o Suazo juntaram-se à festa e já nem me lembro se entrou mais algum.

Mas que merda, meus amigos. Reparem: eu não estou à espera de espectáculo, até porque i) sou benfiquista ii) desprezo qualquer tipo de espectáculo circense, inclusive o tal do Soleil iii) sou um de dois portugueses que gostam de ver futebol italiano (o outro é o Luís Freitas Lobo, mas ele gosta de futebol italiano, como gosta do inglês, brasileiro, vietnamita, islandês, coreano… o não ter nada para fazer deverá contribuir para isso; aquela voz dele entre o anasalado e o adamado deve impedir o fim da sua solidão). Mas estou, natural e obviamente, à espera que ganhem a uma equipa da 2.ª divisão, catano.



Não só espero como exijo que não me voltem a fazer perder três horas de um domingo com uma série de penalties numa qualquer eliminatória da Taça de Portugal ou da Liga.

Não brinquem com isto, pá.

SLB, 0 – Penafiel, 0 (5-3 após g.p.)

18.10.08

O regresso de Artur Jorge

Por detrás da complexidade formal da crise dos mercados financeiros, a sua génese encontra explicação nas costumeiras e simples razões que explicam tudo o que a humanidade toca. Tal como no futebol, há uma multidão que exige resultados imediatos, gestores e trabalhadores que os procuram a todo o custo e entidades públicas inoperantes. E substituam o futebol por marcenaria, advocacia ou arquitectura paisagística, que vai dar no mesmo: qualquer crise ou sucesso encontra explicação nas mesmas causas e no mesmo tipo de actores.

É tentador tratar esta crise – até pela espantosa amplitude do seu impacto – como um feito isolado, desligado do resto do mundo e das pessoas comuns. Mas os tais mercados que agora ocupam as capas dos jornais não são obra de um sucedâneo do HAL: são conduzidos pelos biliões de decisões que todos nós tomamos a todo o momento, de acordo com as nossas necessidades, caprichos, preconceitos, convicções, deficiências e virtudes. Não há separação entre o “económico” e o “social” (a economia, para o caso de alguém não saber, é uma ciência social). Por isso, todos tivemos a nossa parte – por muito pequena que fosse – de responsabilidade nesta crise e todos partilhamos da ganância apontada aos gestores dos bancos em causa.

A ganância vive do curto prazo. De ter mais, mas agora. O longo prazo é um luxo exclusivo das sociedades ocidentais que, contudo, estas desprezam. Esperar é morrer, infere-se de uma máxima de Keynes. Tratamos então, recorrendo aos bancos, de ter a casa, o carro e o plasma que os nossos pais nunca tiveram ou tiveram bastante mais tarde. Até a nossa reforma empurramos para ser paga pelos nossos filhos e netos.
As tentativas de colar a ganância ao capitalismo são tão velhas como ridículas. Não há “ismo” com diluente suficientemente forte, porque o terceiro pecado mortal integra profundamente a natureza humana. Não é defeito, é feitio.

O OSP está preocupado com esta crise. Não com os seus efeitos imediatos, que poderiam resultar na perda das poupanças das pessoas, porque a população portuguesa, engenhosa, preparou-se atempadamente, endividando-se. Sendo-se devedor, não há problemas de cobrança. O que realmente nos preocupa são os seus efeitos futuros. E para os tentar antever, vamos analisar as causas e consequências da crise do SLB. Reafirmamos: qualquer crise ou sucesso encontra explicação nas mesmas causas e no mesmo tipo de actores desta tempestade dos mercados financeiros. E no SLB não foi diferente.

A crise do SLB teve o seu epicentro entre os finais dos anos 80 e os primórdios da década seguinte. Sob a gestão de Jorge de Brito, primeiro com o testa-de-ferro João Santos, depois democraticamente assumida, a pressão dos adeptos era imensa, especialmente depois da vitória dos portistas em Viena e da derrota do SLB em Estugarda. Era urgente resgatar o SLB Europeu. E Jorge de Brito, no seu benfiquismo irracional, passe a redundância, fez-nos a vontade, construindo uma equipa perto do fabuloso, mas que apenas durou os 90 minutos da final da Taça de 10 de Junho de 1993.
O problema dessa equipa é que não era sustentável. Os milhões (de antigos contos) investidos em Futre, João Pinto ou Isaías não tinham companhia, e os seus salários deixaram de ser pagos. O Pacheco e o fdp fugiram para o lado errado da Segunda Circular, João Pinto foi ainda resgatado algures em Espanha e Futre vendido a preço de saldo.


Mas, apesar do “Verão Quente”, o SLB retomou o seu rumo e venceu mais um título.
A crise financeira ainda não estava debelada, mas o SLB mantinha a sua actividade “core” de acordo com os seus pergaminhos.
Mas a liderança algo anárquica de Toni não satisfez a turba. Era preciso outro tipo de liderança. Uma que impusesse mais regras, um pulso firme que limitasse os devaneios dos jogadores, que acabasse com as noitadas de vodka e os resultados de 4 a 4.
E veio Artur Jorge, que correspondeu a todas as expectativas. Não mais se viram as correrias loucas de Isaías ou os dribles de Paneira, mas antes o rigor táctico de Nelo ou o profissionalismo de Paulo Pereira. O balneário do SLB encheu-se de activos tóxicos: King, Paulo Pereira, Marinho, Paredão, Paulão, Nelo, Marcelo, Tavares (este, em Milão, foi um activo literalmente tóxico) e muitos, muitos outros. O clube que tinha engrandecido à custa de coragem, ousadia, espírito de luta e capacidade de superação via-se agora amarrado, com as mãos algemadas a um guião detalhado.
As fundações do clube onde todos os treinadores se arriscavam a ser campeões desapareceram, soterradas debaixo de um mundo novo à la Huxley, com a sua infinita ordem e mediocridade.


Por tudo isto, não foi a crise financeira que levou o SLB a uma contemporaneidade repleta de insucesso. Foram as medidas tomadas para a corrigir. E, depois disso, a costumeira ganância, com a sua visão de curto prazo, que queimou uma infinidade de jogadores e treinadores na fogueira inquisitória em que se transformou o Estádio da Luz.

Voltando à crise dos mercados financeiros: pede-se, agora, mão firme, a limitação da actividade dos traders e gestores financeiros, com mais regulação e intervenção do Estado. E os diversos governos, que assumiram com particular incompetência um papel paradoxalmente designado como de supervisão, colocaram as capas e querem salvar o mundo – depois de terem assistido à construção da crise como se esta estivesse revestida de chumbo.

Lembrem-se da crise do SLB: têm a certeza que querem um mundo à Artur Jorge? Tudo se está a preparar para isso.
Como, no OSP, sabemos muito bem o que essa escolha custa, aconselhamos um mundo mais à Quique: com alguma ordem, sim, mas também com a liberdade que, dando origem a muitos erros, nos fará com certeza mais felizes.

Vão pensando nisto.

Ele do que a gente precisava era de um Pinto da Costa

O OSP tem uma maneira de distinguir os jornalistas desportivos que têm verdadeira cultura geral daqueles que, sem a ajuda da internet, não passariam de funcionários de junta de freguesia secretamente simpatizantes do PNR: fá-lo quantificando o uso que eles dão à palavra “interregno”, quando surgem os períodos em que o campeonato pára para os jogos da selecção. Os jornalistas sofríveis preferem usar “pausa” ou “interrupção” para se referirem a estes dolorosos momentos sans SLB, no que é a solução simples, maquinal, imponderada, a escapatória de quem não cogita (sobretudo no mal que o raio da selecção faz a um campeonato que, com franqueza, parece que ainda nem começou). Já os jornalistas que são artesãos da palavra optam sempre por “interregno”, escolhem tactear a raiz, cogitar na significação etimológica de interregnum, pois alcançaram que neste momento não há uma única razão válida para ver jogos da selecção. Porque perceberam que existe hoje um vazio régio na selecção, é empregando essa palavra que tentam transmitir isso, obrigatoriamente de forma dissimulada, aos leitores mais atentos.

Foi em Julho de 2004 que o OSP, sempre dos primeiros a despertar de sonos dogmáticos, chegou a essa inferência, e desde aí que não consegue ver um jogo da selecção senão com módica atenção. E tudo aconteceu pouco depois de o Rui Costa ter anunciado que ia deixar de jogar por Portugal, o que levou o OSP a cogitar que a qualificação para o Mundial da Alemanha marcaria a primeira vez em 20 anos que teria de ver a selecção jogar sem o Rui Costa ou sem um extremo-esquerdo canhoto fora de série. Para quê ver, então? E, para ser sincero, o OSP não tem, nem nunca teve, grande paciência para o faux patriotismo (hoje, o OSP sente-se como que leclezianamente enamorado da língua francesa) associado: i) aos jogos da selecção; ii) às carrinhas familiares que ostentam autocolantes com o emblema monárquico na porta da mala; iii) aos gajos que atam bandeiras portuguesas aos piscas traseiros das motas, quando chega a altura de ir à concentração de Faro; iv) em geral a tipos que gostam do José Hermano Saraiva.


Há quatro anos, então, que as coisas são assim para o OSP, e, olhando para o conjunto de jogadores que aí vem, parece que assim se manterão, pelo menos até o Sporting deixar o João Moutinho ir jogar para o estrangeiro para ele se tornar no jogador que o OSP sabe que ele pode ser.(1) Aí, talvez valha a pena voltar a ver a selecção. Afinal, não há hoje jogador português mais inteligente e mais limitado no lote de seleccionáveis, logo não há hoje jogador português que com mais inteligência consiga superar as suas próprias limitações. Era admirável, uma verdadeira aula de obrigadosápintismo, ver o Moutinho a jogar futebol, quando ele apareceu – aliás, era admirável vê-lo a pensar, enquanto calhava estar a jogar futebol, em como encontrar maneira de extrapassar os adversários e os obstáculos que aqueles lhe punham no caminho –, mas agora já não é tanto. Em verdade o OSP diz que já lhe pareceu vislumbrar, uma ou duas vezes, um brilho baço de Custódio nos olhos do Moutinho.

Portanto, sem jogos do SLB, e com o OSP algo desacoroçoado por o José Rodrigues dos Santos ter sido mais uma vez injustamente desconsiderado pelo comité de selecção do Nobel da literatura, o que resta? Cogitar sobre o SLB, claro. E não faltam motivos ao OSP para cogitar. Contudo, o OSP não pretende escrever sobre o desassossego que vai na sua glândula pineal com a perspectiva de o Suazo estar quase a voltar a jogar (o que assegurará por si só que o SLB não mais perderá pontos [sim, pontos; nem sequer se está a falar aqui de jogos] este ano contra os Leixões e as Navais deste país); não, desta vez pretende iniciar uma relação metatextual (plena de recato, respeito e consideração, claro está, de acordo com os seus valores de gentil-homem) com um texto sobre o SLB e o OSP que leu recentemente.

Claro que esse texto (cujo conteúdo o OSP chancela a 100%, diga-se de passagem, pois concorda plenamente com as verdades nele reveladas) já tem para aí umas três semanas, porém há bons motivos para o OSP só agora ter decidido divulgar as suas cogitações sobre o que ele expressa. Por um lado, quando cogita, o OSP não se limita a parecer um falso lento – é realmente um cogitador lento (pois só sobre a relva é que acredita na rapidez do génio); por outro, ordenar todas as notas de rodapé foi uma tarefa demorada, mas usá-las era a única maneira de o OSP conseguir controverter questões tão complexas, de versar todas as ligações que os metatextos necessariamente estabelecem.(2) E, por último, as cogitações do OSP levaram-no a ter de olhar para a própria natureza do benfiquismo, um tema que não se pode de modo algum abordar com ligeireza, com insouciance, ou sem cumprir intricadas abluções várias vezes ao dia.


Pois bem, o OSP até acha normal que se seja da opinião que os sportinguistas escrevem melhor sobre futebol (e porventura mesmo tout court, embora para defender esse ponto de vista seja mister descartar, em ambos os casos, a prosa marialva do Eduardo Barroso, algoz do Bilro) do que os benfiquistas: afinal, tal não expressa senão a diferença entre ter estudado no St Julian’s ou na Escola Secundária de Sacavém. O OSP acha ainda natural a acusação que já lhe fizeram de escrever sobre o SLB como se fosse um sportinguista, visto que, por ser nu de complexos, tem noção do muito que une benfiquistas e sportinguistas, nomeadamente o facto de ambos passarem a maior parte do tempo a falar sobre o SLB.(3) Nada de anormal até aqui, portanto.(4)

Já no que o OSP não pode estar de acordo é que caiba somente ao Sporting a natureza trágica com a qual se diz (com a-propósito) que se faz a grande literatura. Na noção de benfiquismo do OSP, pelo menos, nunca assim foi.

“Se tens dor, transforma-a em poesia”, lembra-se o OSP de ler, adolescente, numa antologia de poemas do Goethe. Contrariamente ao que é sua prática corrente (que decorre, aliás, da sua erudição, aliás reconhecida), o OSP não se lembra desta vez do original alemão, mas a tradução portuguesa ficou gravada no seu espírito e serviu-lhe de gérmen e justificação para todos os arremedos poéticos, com fins de estrofe invariavelmente de tema em -a, que constam da juvenília do OSP. Já do que o OSP se lembra é que sempre intuiu, desde criança, que o SLB tinha uma natureza trágica por baixo do seu manto glorioso de clube português com mais títulos. Havia ali uma mágoa inexprimível que o OSP, na realidade, entreviu desde sempre no bigode melancólico e lusitano do Toni.


Uma vez, o OSP tentou mesmo levar o tema “Benfica, clube trágico?” a debate na sala de convívio do antigo Estádio da Luz. Idealizava-o assim como uma mesa-redonda igual às do Franco-Portugais, o que daria de imediato credibilidade ao acto de polemizar, mas os reformados residentes não acharam piada, não levaram o OSP a sério e, inclusive, ameaçaram-no fisicamente. Há certos assuntos de que não se pode falar, e muitos benfiquistas acham realmente que estar no Guinness com 150 mil sócios prova que o SLB é o maior clube do mundo – e que isso interessa (5) – e que o estatuto do clube é intocável, logo não se admitem discussões sobre a sua gloriosidade.

Só que, para o OSP, o SLB tem também um lado trágico, e é fácil perceber porquê se se tiver em mente seis anos diferentes: 1963, 1965, 1968, 1983, 1988 e 1990. Em todos eles o SLB sofreu derrotas em finais europeias, cinco delas na Taça dos Campeões (a verdadeira, antes do advento do apalhaçado hino da “Champions”) e que, a terem sido ganhas, fariam com que o SLB tivesse hoje sete Taças dos Campeões, dignidade que partilharia unicamente com o Real Madrid e o Milan. Só que em 1963, o Germano estava lesionado e não pode jogar a final com o Milan, e o SLB acabou por levar dois golos incríveis pelo meio; em 1965, o Costa Pereira lesionou-se durante o jogo, e o SLB teve de jogar com dez mais de meia hora; em 1968, o Eusébio não marcou o 2-1 no último minuto, quando ia isolado para a baliza e só tinha o guarda-redes à frente, o que nunca, mas NUNCA, acontecia; e, em 1988, cinco dias antes da final com o PSV, o melhor jogador do SLB, o Diamantino, então na sua melhor forma de sempre, fez uma rotura de ligamentos.

Se não há tragédia nestas seis verdadeiras tragédias, então a mágoa no bigode do Toni iludiu o OSP estes anos todos. E, aceitando isto, como se pode achar que no SLB não mora também a dor da derrota que produz a grande literatura? É preciso é ter bravura para admitir que essa dor trágica existe.


E talvez estes últimos 20 anos tenham sido necessários para o SLB redescobrir a natureza trágica do desporto, a natureza de que o SLB também é parte e da qual os benfiquistas se tinham esquecido. Em 1993, por exemplo, o SLB ganhou a final da Taça de Portugal ao Boavista com uma das suas melhores equipas de sempre, à qual não foi dado o tempo para se tornar verdadeiramente imortal.(6) Depois do jogo e da vitória, o OSP lembra-se que a reportagem no balneário mostrou a toda a gente um plantel calmo, sem euforias, demasiado profissional. Os jogadores vestiam-se, arranjavam-se, penteavam-se, quase em silêncio. Habituado a ganhar, o SLB trivializara essa acção, e os seus jogadores já não sentiam necessidade de saltarem em cuecas em frente às câmaras (aqui, talvez essa escolha tenha sido acertada, admite o OSP, ainda e para sempre horripilado pela imagem recorrente do Paulinho Santos, cuecas salpicadas sabe-se lá de quê, a festejar depois das vitórias do Porto), de celebrarem depois de terem feito parte de uma das melhores exibições de sempre de uma equipa numa final da Taça de Portugal. No meio de toda aquela fleuma, um único jogador andava por ali aos saltos, ele sim eufórico, ele sim percebendo que ganhar não é um meio para alcançar um fim. Esse jogador, para sorte actual dos benfiquistas, era o Rui Costa.(7)

Só a nobreza do saber perder permite ter elevação quando se ganha. Olhando para a história recente do futebol português, não é difícil começar-se a cogitar que não se têm visto muitos exemplos desse tipo de atitude. E pode ser que o SLB do OSP seja um clube trágico, mas é também por isso que é um clube poético: é um clube cujos sócios ajudaram activamente a construir o antigo Estádio da Luz; é um clube cuja equipa de futebol cumprimenta os espectadores com uma vénia depois de entrar em campo; é um clube que ao longo dos anos teve capitães como o José Águas, o Coluna, o Simões, o Humberto Coelho, o Veloso e o Ricardo Gomes, que são personificações antes de tudo de espírito desportivo, e só depois do SLB (8); é um clube cujo melhor jogador de sempre apertava a mão aos guarda-redes, quando achava que eles mereciam ser cumprimentados por o terem impedido de marcar um golo; é um clube que não pode ser limitado pela vã glória de ganhar.(9)

(1) Isto em vez do choramingas em que ele se tornou, que passa a vida a mandar-se para o chão, a reclamar com os árbitros, a pedir cartões amarelos para os adversários e, mal aconselhado, a achar que a sua vocação na vida é jogar como número 10. O OSP só sabe que, se as coisas continuarem assim, consegue, com relativa nitidez, visualizar o Moutinho (1,70 m) a ser a estrela do meio-campo do Guimarães daqui por quatro/cinco anos. É por isso fundamental que o Sporting reduza os 25 milhões que pede por ele aí uns dois terços e o deixe ir para o Barcelona aprender com o Xavi (1,70 m) e o Iniesta (1,69 m) nos treinos. É importante, é o futuro do OSP como apoiante da selecção que está em jogo.

(2) Por isso é que o OSP foi obrigado a fazer (por irritante que isso seja, porque o é) um texto à David Foster Wallace – um pasticho, por assim dizer. Mas só no que toca à estrutura, deve ressalvar-se, que o OSP é homem o suficiente para admitir que não percebeu peva do Infinite Jest.

(3) Isto não é imaginoso: veja-se qualquer declaração pública ou entrevista ao Diário Económico do Filipe Soares Franco, presidente, logo macho dominante, do Sporting.

(4) Contudo, é necessário ter presente que dizer que é preciso ser do Sporting para se escrever bem afronta 93,7% dos elementos da redacção de A Bola entre 1960 e 1990, sem dúvida o segundo melhor período literário de sempre de uma publicação portuguesa, logo a seguir aos 13 anos da Presença. Até o grande Ruy Belo confessou que foi a ler A Bola que aprendeu a escrever. E note-se ainda que quem melhor escreve sobre futebol em Portugal na imprensa continua a ser, goste-se ou não dela, a Leonor Pinhão (mesmo dando de barato que o argumento do Corrupção foi, de facto, o Na Outra Margem, Entre as Árvores da sua carreira).

(5) Deste modo, chega-se ao ponto de a validação da grandeza do clube pelo exterior ganhar uma importância maior (e há um clube no Porto que é um exemplo de levar essa vontade de validação ao ponto da monomania) do que a paixão pessoal pelo próprio clube, que, não obstante poder ser consequência de transmissão familiar (e normalmente é-o), não é racionalizável, e muito menos quantificável ou estatisticável.

(6) O tempo flui, cruel; como nas finais da Taça dos Campeões perdidas, aos benfiquistas só resta pensar, até à morte, no que podia ter sido. E transformar a dor em poesia.

(7) O Padinha acha que a indiferença do plantel nessa ocasião se devia a para aí cinco meses de salários em atraso, mas eu, Tó Portela, recordei-lhe que o OSP jogaria no SLB de graça e sem seguro de acidentes pessoais.

(8) E há hoje esperança de que a capitania possa voltar a valer mística, depois de demasiados anos de Joões Pintos e Simãos. Voltou a haver quem desde pequeno sonhe em ser capitão do SLB.

(9) Hã? Que psicotrópicos é que o OSP andou a tomar? Para falar a verdade, Lourenço, esquece tudo isto que o OSP escreveu. O OSP quer é que o SLB ganhe e, para isso, de bom grado mandaria o Brilliant Orange para o caixote do lixo e se passaria a inspirar no Vocês Sabem do que Estou a Falar.