18.12.08

No, we can't

Não poderá haver verdadeiro benfiquista que, apenas por breves minutos, não adorasse ter Mário Wilson como treinador. Imaginemos que, no lugar do atlético Quique, tínhamos o idoso barrigudo vendedor de chuchas.
A atitude para este jogo contra o Metalist (designação que não envergonharia qualquer banda de heavy metal) seria radicalmente diversa. Porque, com o Grande Capitão, o SLB teria a obrigação de lutar pelo resultado e ele, com imponência, faria questão de afirmar a sua crença nessa demanda. E nós riríamos muito, e atestaríamos a sua incapacidade mental em todas as conversas que antecedessem o jogo.

Mas, quando a equipa entrasse em campo e víssemos Balboa na direita, Urreta na esquerda, Yebda a pivot defensivo, com Aimar e Rúben ao seu lado, e lá na frente Cardozo, Suazo e Nuno Gomes, um onze de sonho para qualquer treinador de bancada, por minutos (e cá estão os tais minutos) nós pensaríamos: “E se isto der? E se afinal for possível?” Mas depois, para aí aos 15 minutos, os outros tipos lá marcariam um golo e retomávamos a consciência. Mas, passados mais 10 minutos, quando o Mantorras entrasse a substituir o Sidnei, lá viriam mais uns minutos (dos tais) em que nós lá deixaríamos adormecer o cérebro, que retomaria sangue após o terceiro golo dos Iron Maiden ou Megadeath, ou lá como os gajos se chamam.



Pois não era, nem foi, mesmo possível.

Quanto ao que se passou no jogo, não há muito a adiantar, porque a primeira parte foi seguida pela rádio, e a segunda parte através do telemóvel. Problemas de infância impedem-me de aderir ao serviço que disponibiliza o Canal Benfica, porque a sua marca faz-me lembrar um colega da pré-primária, fanhoso e ranhoso (não sei se fanhoso porque ranhoso, ou ranhoso porque fanhoso), que, sempre que lhe pedia uma coisa qualquer, um carrinho ou um pião, respondia sempre: “É Meo.” Para além disso, vivo mal com o patrocínio da PT, que, não só nos pintalga uma bancada de verde, como nos põe um sapo à frente do nariz, como que a dizer-nos, antes de cada jogo, “lá vais engolir mais um”. Troquem lá a PT pela Vodafone, se faz favor.
Segundo os tipos da TSF, em especial aquele com voz professoral (mas que é um grandessíssimo xoninhas), o Quique deveria passar uns dias na Grécia, com uma t-shirt a dizer “Ζήτω η αστυνομία”. O homem até das patilhas dele disse mal. Mas eu não posso confiar em gajos que, passados 4 minutos, sim, 4, exclamavam “isto está uma pasmaceira”.

Por isso, olhem, o que fica para a história é nada, porque desta Taça UEFA não reza a história. Venha lá o campeonato, e livre-se o Quique de não me permitir a primeira consoada, em muitos anos, como líder.

Benfica, 0 – Metallica, 1

17.12.08

No armário

O que se passou com o Olimpyacos e com o Marítimo fica para a história desta época como erro estatístico. Nada ali foi provado ou desconstruído.

O que temos até agora são duas fases claras: uma de inconsciência e outra de vergonha. Na primeira fase, tínhamos Yebda e Carlos Martins empurrando a equipa para as mais desbragadas correrias, enchendo o lixo de alinhamentos tácticos. Na segunda, temos Kats e Bynia, segurando a quadriga, acotevelando a defesa na sua base.

Foi com vergonha de ser favorito, de ser candidato a vitórias, que o SLB se fez ao Mar. O Leixões está em segundo lugar na liga. Está. O José Mota, mesmo sem o boné laranja, é um bom treinador. É. O Leixões é uma equipa “superiormente orientada”. É. Mas nada disto faz com que deixe de ser o Leixões. Nenhum jogador do Leixões calçaria umas chuteiras do SLB, nem o Mota, mesmo com o boné laranja, assentaria as nalgas no banco encarnado.
Mas a equipa SLBiana achou que sim. E lá ficou, envergonhada, à espera de não sofrer um golo, e só nos últimos minutos deixou a sua intrínseca natureza tomar conta do jogo.

Não chegou. E não chegaria nunca, mesmo se o SLB tivesse marcado naqueles minutos de desconto ou de prolongamento.
O Quique tem de tirar a equipa do armário, tem de a fazer assumir-se. Que diabo, até o Goucha já o fez.

Leixões, 0 – SLB, 0 (5-4 gp)

16.12.08

Sem bandeiras desfraldadas

A bipolaridade benfiquista pode ser um interessante caso psiquiátrico, mas cria uma cadeia de maleitas que desencadeia em discussões de cardiologia. E eu, em geral, não gosto de proto-ataques cardiovasculares. É uma coisa que me chateia.


Porém, é a isso que nos tem levado a observação do Glorioso nestes dias invernosos. Isto quando, no quentinho da nossa poltrona, com a manta pelos joelhos e taça de chá na mão, deveríamos fruir com mais frequência do meu, em vão invocado, rolo compressor. Felizmente, com o Marítimo foi um desses dias. É este o Benfica que nós, os benfiquistas, merecemos. Mas, mais! É este Benfica que o Sporting e o Demo merecem! Máinada!



Mas o Benfica não se fica pelo presentear futebolístico. Toma posições políticas, de justiça, sem proferir uma palavra de ordem, um grito de revolta. Cientes da presença do amigo do Demo na bancada, o indescritível Alberto João, o Benfica demonstrou ser mais eficiente e nobre que José Manuel Coelho. Portou-se como o Jesse Owens dos Barreiros, relembrando aí os Jogos Olímpicos de Berlim de 1936.

Foi um momento de liberdade política e racial. Meia dúzia de golos ante o representante da irredutível ilha que resiste à democracia é um serviço não só aos benfiquistas, mas a toda uma nação de amantes do estado de direito. Se o Benfica é a mais nobre e unânime instituição de Portugal, podemos acreditar que ainda há esperança para o nosso país.

Alberto João, zero - Benfica, seis

P.S. Esta merece ser por extenso

5.12.08

Perdidas sadinas

Existe apenas uma razão pela qual acredito no título este ano. É o facto de o Benfica, mesmo sem exibições regulares e sólidas, se encontrar no topo da tabela, espreitando o primeiro lugar, invicto. E, com este jogo contra os sadinos, os encarnados vieram apenas reforçar os ânimos de quem subscreva esta minha visão.

Além disto, este jogo com o Setúbal vem também preencher uma lacuna importante. Caso o título acabe por escapar, este será daquelas partidas em que choraremos o par de pontos que nos escapou nos derradeiros instantes. Há que fornecer estas armas aos adeptos para que estes possam brilhar nas conversas de café.



Tacticamente falando, o buraco entre o meio-campo do SLB e a linha avançada foi quem mais deu nas vistas na 1.ª parte. Mais uma vez ninguém parecia notar aquele irritante handicap. E até uma equipa extremamente estéril, e desta feita a jogar provida até de um avançado de raiz (sim, Laionel, além de apresentar um nome ortograficamente adulterado ao nível dos melhores rappers mundiais, é tudo menos avançado), conseguiu recolher ao intervalo em vantagem.

Eis que, no arranque da 2.ª parte, parecia ter-se feito luz e a sorte estava connosco. A PJ tinha acabado de reencontrar Katso, que brilhou no reatamento, Quique parecia ter finalmente descoberto o vazio existente no meio-campo, que parecia engolir a equipa, que se mostrava faminta como se fosse um galhardo emblema oriundo da Eritreia.



Todavia, ao ver anulado o terceiro golo do jogo, a equipa pareceu pressentir o que se sucederia. E acreditem que só o Benfica tem potencial para conseguir sofrer nos instantes finais um golo de bicicleta, assinado por um defesa-central, cujo apelido consta apenas de uma singela letra.


SLB, 2 - V. Setúbal, 2


Graça, postado por Cosme

4.12.08

Entre Leverkusen e Vigo, sob a influência de Tyche

Há alturas em que nos sentimos como homens das cavernas. Enquanto cofiamos a barba (que não temos), sentimo-nos incapazes de compreender o que se passa à nossa volta e urramos com o desejo latente de arrastar uma mulher pelos cabelos.

A primeira versão deste post consistia num conjunto extenso de onomatopeias, separadas por reticências. Resultou de uma ligação directa ao cérebro, minutos depois do final do jogo, que, pobre coitado, entrecortava flatlines com urros.
Numa segunda versão, a prosa era inspirada em meios tão inspiradores como o mercado do bolhão ou o Cais do Sodré, e um sinónimo de proxeneta, no plural, era utilizado amiúde.
A terceira e definitiva ganhou forma após a leitura de um outro texto profissional sobre o jogo, efectuada dias depois do acontecimento, altura em que já se conseguia alinhar um esboço de raciocínio.
A propósito dos comentários ao jogo, tanto na televisão, como nos jornais desportivos, importa dizer que os jornalistas contemporâneos têm uma vocação mal disfarçada de magistrados e dos portugueses. Eles precipitadamente apontam o dedo, conseguindo julgamentos rápidos na praça pública, mas com casos prenhes de insuficiência de informação, quando não contradições.
Ora, no caso em apreço, o dedo foi apontado ao nariz da defesa encarnada. E recorreram ao futebolês, com expressões do género “em alta comEetição não se podem cometer erros destes”. Alta competição? O adversário foi o Olympiacos, pelo amor de Eusébio. Uma equipa perfeitamente integrada na Europa mediana, que de vez em quando até passa uma fase da Taça UEFA, mas que também leva cinco do Barcelona (como 98% de todas as equipas europeias, aliás).
A grande anormalidade deste jogo passou, em primeiro lugar, pela equipa grega ter marcado quatro golos em quatro remates. Isto não é eficiência – nem o próprio Henry Ford sonharia com este grau de eficiência –, é uma grandessíssima e alternadíssima vaca. Ou então, numa versão mitológica, foi Tyche que apadrinhou o Olympiacos. Numa versão católica, o SLB foi absolutamente abandonado pelas alturas (talvez, se a capela de Prieto ainda estivesse de pé, a nossa sorte fosse outra).

Quanto à nossa defesa, não houve uma grande diferença relativamente ao habitual. Os jogos em que o SLB não sofre golos são raríssimos. E mesmo naqueles em que não sofreu, foi porque tipos que conseguem conjugar o acertar na bola com o acertar na baliza são raríssimos. Tivesse o Penafiel um tipo com jeito para isso e a Taça de Portugal já tinha passado para o ano.
A única diferença foi a introdução de uma figura que só conhecíamos no ataque. Não é anormal ver um jogador solto na frente, mas o David Luiz criou a figura do jogador solto na defesa. E era vê-lo a aparecer tanto na direita como na esquerda, semeando o pânico na sua própria defesa. Mas não foi aí, reforçamos, que o SLB falhou, relativamente ao padrão a que já nos habituou esta época.

Foi nisto: aos 17 minutos, o Rúben passou para o Nuno Gomes (que estava em off-side), ainda por cima quando deveria ter empatado o jogo; aos 31 minutos, Suazo quis armar-se em Ronnie O'Sullivan e falhou o 1-3; mais duas oportunidades de golo na segunda parte.
Em resumo: entre uma reedição de Leverkusen e uma reedição de Vigo, a rapaziada inclinou-se mais para esta última.

No que ao OSP diz respeito, deixamos aqui uma declaração formal: o OSP avalizou o contrato do SLB com o Quique, sabendo perfeitamente da equipa irresponsável que aí vinha. Mas essa irresponsabilidade tinha dois lados: sofrer golos como a selecção portuguesa de futebol feminino e marcar golos à SLB versão Toni 94.
Assim sendo, o que se passou na Grécia consubstancia-se como uma rescisão unilateral de contrato. O OSP é uma entidade de bem e que acredita, francamente, no princípio da segunda oportunidade. Esperemos então que o Quique e os seus rapazes a saibam aproveitar.


Olympiacos, 5 – SLB, 1